Promessas
É realmente engraçado que, embora tudo esteja girando, em movimento, ao seu redor, você se sinta amorfinado, anestesiado de qualquer coisa que te ligue a este mundo. A sensação de entorpecência é tão agradável que tocar a realidade torna-se inimaginavelmente cruel.
Quando se sente a anestesia menos potente, o desespero se torna gritante, implorativo, pra que seja administrada uma dose maior de veneno. Por que o veneno dentro do organismo é mais confortável do que a agonia em relação à cruel realidade. Se necessário, até a morte tem permissão pra entrar se isso o certificar de que a realidade não vai te tocar, te alcançar.
MORTE - uma fuga, uma saída, bem mais confortável do que sentir o latejar da ferida de enorme extensão, a ganhar mais terreno a cada momento, embora invisível aos olhos.
Dor, potente e crescente é o que se espera da realidade.
Ah, se houvesse chance qualquer de mudança...
Qualquer promessa que fizesse ao menos esperança brotar, qualquer promessa que fizesse da realidade uma visão menos horrenda, mas promessas não podem sustentar realizações. Infelizmente.
Pobres Promessas, feitas, desfeitas, quebradas. Correntes transpassadas, momentaneamente, para nos sentirmos exuberantemente seguros, sem sabermos que estas são tão finas quanto um retrós, que se rompe com mínima pressão.
Promessas são as que te dividem e te tornam dois imãs, com efeito de atração opostos, dois imãs que se repelem, impossibilitados de conviver em harmonia. Um quer acreditar que pode, o outro vibra de horror com a mínima possibilidade de deixar acontecer.
Expectativas pelo cumprimento dessas promessas que entram sorrateiramente por entre suas defesas e te deixam fraco.
Promessas, doces promessas.
Mas nada pode tornar a dor da realidade menos aguda exceto sua morfina de cada dia.
Exatamente por isso você precisa manter os dois lados da realidade adormecidos.
Vida e morte que encontram-se entrelaçadas como o mais fino barbante, a única forma de te salvar é também o caminho para o fim. Seu veneno agridoce.