Amiga.

E então ela começou a pensar em si mesma: estava ali, olhando para o nada, pensando na vida, prestes a se jogar no espaço vazio que estava a um passo de distância. O que tinha feito para, de repente, tudo parecer tão pequeno, tão incerto, tão escuro e ruim? Não sabia, e achava ser indecifrável. Mas ali ela estava, chorando, pensando em acabar logo com essa coisa que costumam chamar de vida. Olhou para o lado. Viu uma garotinha brincando com uma pequena flor. Uma menininha, de olhar meigo, cabelo cor de mel, rosto angelical… Uma criança. Lembrou-se da época em que, como ela, gostava de se divertir com a natureza, de observá-la, admirá-la. Seus olhares se encontraram, e aquela menininha, tão doce, parecia ser o reflexo da perfeição. Viu-a aproximar. Chegar perto, sem medo, nem nada. Não desviou o olhar nem sequer um segundo. A menininha estendeu a mão, ofereceu uma flor àquela menina mulher que se encontrava à sua frente, que, abruptamente, viu uma lágrima escorrer de seus olhos que mostravam claramente a dor em seu coração. Sorriu. Sorriu sem querer. Sorriu entre lágrimas. Simplesmente, sorriu. Olhou para baixo. Desistiu de tudo. Queria viver, queria ver como seria a sua vida após alguns anos. Virou-se, andou ao sentido contrário à escuridão. Nunca mais viu a garotinha que a fez ter esperanças para viver. Seria ela real, ou apenas fruto de sua imaginação, algo inventado por sua própria consciência para ver que ainda havia motivos para viver? Não sabia, mas julgava ser apenas um anjo. Um anjo sem asas. Como uma amiga.

Raíssa César
Enviado por Raíssa César em 24/04/2011
Reeditado em 01/05/2011
Código do texto: T2927711
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