Samba
Meu pedaço de terra tá envenenado. A água do meu poço secou. Eu sento e miro o sol, que se põe já tão cedo. Eu não tenho sossego dentro de mim. Sou um espaço cavado no seco, sou cego e até onde sei, não escuto muito bem. Minha sede é pelo sucesso, meu sangue já corre em veias abertas, não tenho nexo, sou um livro batido, de prefácio comido por traças e tédio.
Se o tempo sobe devagar, com as horas vagas, arrastadamente várias, faço a cena parecer simpática. Se corre solto, se veloz como um cavalo novo, deixo que o vento faça do corpo um acontecimento. Sou de novo aquele instante que me liga a todos os momentos de minha vida, aquele êxtase que não tem idade. A única verdade, talvez, na sanha de ser homem.
Só que ele vai parar, eu sei. Não é para sempre. De súbito, me entristeço.