Samba

Meu pedaço de terra tá envenenado. A água do meu poço secou. Eu sento e miro o sol, que se põe já tão cedo. Eu não tenho sossego dentro de mim. Sou um espaço cavado no seco, sou cego e até onde sei, não escuto muito bem. Minha sede é pelo sucesso, meu sangue já corre em veias abertas, não tenho nexo, sou um livro batido, de prefácio comido por traças e tédio.

Se o tempo sobe devagar, com as horas vagas, arrastadamente várias, faço a cena parecer simpática. Se corre solto, se veloz como um cavalo novo, deixo que o vento faça do corpo um acontecimento. Sou de novo aquele instante que me liga a todos os momentos de minha vida, aquele êxtase que não tem idade. A única verdade, talvez, na sanha de ser homem.

Só que ele vai parar, eu sei. Não é para sempre. De súbito, me entristeço.

Avati
Enviado por Avati em 14/04/2011
Código do texto: T2908260
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.