Despertar dum homem
meu corpo desperta do sonho
sente ao redor o silêncio dos homens
quando todas as coisas vibram
nada tem nome ou lugar e nem é
são a Fome e a Preguiça nuas
as duas me arrastam até a cozinha
pra tomar um pouco d'água do filtro
encarar os fatos e as coisas que há
calado entre a porta e a cama
com a cabeça em desordem
desejo a mim mesmo que possa parar
porquanto repetir me condena
a duras penas faço a viagem
me instalo entre outros seres humanos
respondo a horários e normas da empresa
embora tudo acabe na mesma
ninguém parece feliz por muito tempo
a todo momento é alguma coisa
naqueles olhos de falência múltipla
que deixei em casa ao sair do meu quintal
quando cai o sol na linha horizontal
eu sei que é tempo de deixar os homens
correr para baixo dos meus lençóis
onde meus súditos esperam por novos decretos
debaixo deste teto vive um sonho
tão grande de ser sonhado
que é colocado na vida aos bocados
como beijos de um amor longo e desnecessário