Echoes
Não que eu precise. Até ofereceram, vendo meu estado deplorável. Que homem barbado que se preze que fica com os cotovelos arrimados nos joelhos e com o queixo enterrado nas mãos chorando profusamente em praça pública? Mas um ácido lisérgico qualquer me faria melhor... Qualquer doce me faria melhor. Porém, eu recusei. Eu preciso mesmo é de você. A trilha sonora das grandes expectativas na garupa da Loucura guiando o guidom por nuvens fofas na terra do Semi-Nunca. Descobri que tenho alma. Só pode ser uma alma esse troço ruim se contorcendo dentro de mim me causando dor. Dor. Dor. Inenarrável dor. Dor sem hematoma. Dor. Dor sem ponto fixo. Essa maldita e muda hecatombe de tudo o que era bom e bonito e certo e desprovido de vileza dentro de mim. Eu vim de um testículo e você de outro. Fui engendrado dentro de um ventre em você dentro de outro. Quando daqui partirmos, cada um vai pro próprio caixão ou pra caixinha com seixos das cinzas. Por que isto dói, dadas tais inegáveis certezas? Aumentei tanto o volume desse tocadorzinho de música coreano que parece que meu cérebro vai explodir. A trilha sonora das grandes expectativas com a bocarra aberta engolindo gêiseres de amor liquefeito - gêiseres oriundos de um buraco negro sobre a minha cabecinha malsinada, confusa, destruida, cretina, ingênua, esperançosa, pífia, inútil, dispensável, insensata, parva, vazia, oca, blablablá... Não sei o porquê de ter tatuado isso no peito se o correto é não ser bom, se o correto é ser vil, torpe, mendaz; ser um agente do caos, ser um representante do inferno na Terra, ser um filho da puta que calça uma chuteira pra pisar no coração e transformar doces menininhas em putas desprovidas de coração - assim como você ficou após suas experiências com outros filhos da puta que não eu. A sorte madrasta foi a minha, como sempre, com essa maldita predileção pelo que não vai dar certo. É assim, não é? Basta pisar que o homem gosta. Tenho que voltar a ser um furacão libidinoso e sair comendo a mulher dos outros, fodendo melhores amigas fingidas sem que uma saiba da outra; projetando a incursão de meninas fiéis em namoros na pura farra da promiscuidade; enfiar o dedo no cu de uma num motel e ir dormir na casa da outra e repetir o processo. Tsc, pára! Eu estava bem, no limbo, sozinho, sem nenhum desses extremos; sem ser um galinha despudorado ou um asceta choramingas esperando a princesinha do unicórnio branco vindo me buscar e me levar pra Terra do Derradeiro-Sempre-Idílico-Perpétuo. Faça-se o favor, meu filho! Não se pode esperar muita coisa de outra pessoa. Filho, você é a própria materialização do quão inconstantes as pessoas são - por que se surpreende e ainda sente o chute nos dentes? Vá sentir o vento no rosto, o vento no rabo... Vá semear a sua discórdia, incutir doçuras no coração de meninas carentes com suas palavras. Vá, porra! Esqueceu do seu axioma favorito? NADA VALE O ESFORÇO QUE SE FAZ! Erga essa porra de cabeça e respire o melhor ar: o do pós-lágrimas. E VIVA, acima de tudo!
11/04/2011 - 23h43m