Uma análise crítica da Grande Mídia
Os noticiários propõem-se a transmitir o mais fielmente possível a verdade a respeito dum fato, não a verdade a respeito das causas, mas a respeito dos acontecimentos. Esse é o compromisso jornalístico.
Porém, não é só de imprensa que se faz mídia. Propagandas e programas nos mais diversos moldes ocupam os espaços entre um espetáculo de loucura exibido num jornal, e outro, exibido noutro.
E é comum que programas assim consigam audiência muito maior que os jornais. Na televisão, por exemplo, os canais mais populares apresentam no menor tempo de toda a sua programação os jornais. A quantidade de horas em que são exibidos os programas jornalísticos na TV é menor que a quantidade de horas em que se exibem outros tipos de programas.
Então, deveríamos nos perguntar: Que representam esses outros programas? Se não é noticiar, o que nos é apresentado?
A qualidade da informação desses tipos de programas, que não são jornalísticos, determina a qualidade de conteúdo de uma emissora.
Se a maior parte da população assiste TV em grande parte do tempo, a qualidade de conteúdo da emissora mais popular determina a qualidade de conteúdo do povo.
Que significa maior conteúdo? Mais informação adequada, com o menor teor possível de preconceito pessoal.
Que tipo de pessoa fala aos milhares de espectadores em frente a um aparelho de TV sintonizado numa das mais populares emissoras? Essa séria questão deveria ser mais considerada. Uma pessoa, um apresentador, por exemplo, que se pronuncia a frente de tantas outras carrega uma imensa responsabilidade. É fácil deduzir que a forma como os que se envolvem com os canais populares pensam, será a forma como grande parte das pessoas irá pensar. Naturalmente uma pessoa, cuja razão não aguçou-se tanto, que vê outra com demasiada autoridade falar a outras milhões tenderá a crer que as palavras do orador são, a priori, representações de algo certo, e seriam tidas como irrefutável se não fosse pelo aparecimento de outras celebridades com opniões diferentes.
É comum que o espectador não tenha um conhecimento fundamentado sobre grande parte do que expõe a personalidade na TV, e a situação não seria tão grave se aquele que apresenta-se nas telinhas — desde as mais humildes às mais caras — preocupasse-se minimamente em auxiliar seus telespectadores a julgar, a pensar, a buscar fundamento no que pronunciam os homens. Não podemos mesmo afirmar que façam, a não ser que consideremos uma exposição fragmentada de informação uma forma de ensinar a buscar fundamentos, a pensar.
Aquele que bastasse-se a si mesmo na busca de fatos que lhe inspirem, convenhamos, seria uma ovelha que, no meio do rebanho, anda na direção contrária, diriam que retrocede, e isso atrapalharia a marcha das demais... Poderia inquietar as demais ovelhas, aumentando as chances do pastor perder o controle, e não há quem esteja no controle que queira abandoná-lo, ou pode o homem “livre” pra mandar gostar de obedecer?
Há um fato que, a medida que o percebemos com mais clareza, aumenta o nosso medo do que possa vir, e este é o seguinte: Nenhum homem de sabedoria, nenhum grande pensador, dispôs de um meio de comunicação em massa tão suntuoso quanto à TV — seguida, de muito longe, pelo rádio, jornal impresso, revistas, e etc —, não lembro-me dalgum relato de que Aristóteles, Nietzsche ou Spinoza tenham ensinado algo na Televisão, nem se ao menos apareceram numa para pronunciarem-se. Ao passo que ante uma grande emissora, vemos, com excelência, mais seres extremamente longes de qualquer forma séria de pensar e buscar alguma verdade, que os “do contra”.
Se a Grande Mídia não compromete-se com a verdade, ou ao menos com o sincero humanismo, não há razão para espantar-se com nada, tudo é esperado: tudo é possível onde não construiu-se bases humanistas e racionais.