desabafo n° 3
Fora a primeira vez que eu fazia algo desse tipo, ou com tanta necessidade. Eu perdi muitas horas do meu sono pensando nas minhas escolhas, não só em algumas, mas em todas que eu tive de fazer no meu pouco tempo de vida. Por mais que eu tentasse dormir, os problemas, as figuras que marcaram meu passado e se faziam ausentes no meu presente, a decadência da minha vida que ha muito tempo estava me consumindo, e sempre foi isso que eu tentei esconder de mim mesmo.
Talvez eu nunca tenha sido o cara que todo mundo achou, e tudo isso que eu vivi foi o fruto de uma farta sorte. Pode também não ter sido somente sorte, por que eu acredito que o único fado em que acredito é de não acreditar na sorte, mas tudo pode ter sido fruto do maquiavelismo que eu sempre cultivei comigo mesmo, desde que eu comecei a realmente entender o mundo com os olhos do amadurecimento. Pode ter sido também fonte do meu desejo insaciável pelo conhecimento, minha ganância pelo poder que a inteligência põe na mão dos poucos que ainda a buscam.
São tantas aspirações, teorias que eu crio e recrio em minha razão, em noites simétricas a essa. Talvez eu seja apenas mais um idiota complexado, que sente culpado por tudo e que tem o impulso de tentar ser sempre diferente dos outros. Talvez eu seja somente mais um daqueles que passaram os últimos dias de sua vida, jogados ao relento e ao frio da noite. Pode ser que eu morra do jeito mais patético possível: em qualquer uma dessas esquinas da cidade, agarrado com meu violão sob os jornais, em uma noite de chuva; ou então, leve um tiro da policia, por não esta roubando sem o clássico uniforme dos ladrões brasileiros: terno e gravata.
Talvez eu consiga alcançar tudo que eu sempre desejei e tudo que ainda vou desejar, e depois disso tudo, quando os sonhos acabarem, a vida vai voltar a ser como nesta noite escura, em que eu reviro de um lado para o outro da cama, impaciente, triste, lamentando os pesares de uma vida como a de qualquer outro, mas que me parece um fardo pesado demais para que eu possa carregar. A verdade é que eu sou ainda aquele garoto frágil de sete anos atrás, que chorava por não poder conseguir realizar os mais singelos sonhos, e que entregava suas forças por suas lagrimas ate adormecer; sou ainda a criança que guarda o brilho da verdade e da carência nas palavras que lhe saem cortando a alma, por que cada uma delas traz lembranças totalmente divergentes, nos fatos e na intensidade. Simplesmente eu sou o mesmo, apenas meu rosto mudou e os empecilhos se tornaram maiores e mais freqüentes do que antes, de modo que, outros detalhes de minha vida, continuam e perpetuam suas emoções em mim até hoje.