Experiências
As experiências sempre devem ser bem vindas! Evitemos, porém, contar anos, dores, decepções, alegrias, troféus, conquistas, alegrias ou até mesmo tristezas... É preciso aprender a olhar cada momento da vida como um complemento de partes e não como dependente das partes. Deixe-me explicar: é preciso aprender a doar-se, a amar, a gostar, a tolerar; deve-se adiar o ódio, claro. Mas, porque não experimentá-lo se, sem ele, o amor inexiste? Faz-se necessário sentir os momentos sem qualquer forma de expectativas, observando que, até mesmo em fatores motivadores de uma partida, há, pelo menos um fator que se julgue justa a ideia da permanência. Assim, mesmo que se odeie, há um motivo para que se ame, para que este amor seja julgado digno de existência; mesmo que este esteja representado em sua forma ínfima, pois até esta resiste e é mais forte do que milhões de razões que justifiquem o ódio. Se há razões para partir, há uma que nos leva a ficar. Se há motivos para chorar, há um que nos leva a sorrir. Se há razões para sermos fiéis, há pelo menos uma que justifica a infidelidade - mesmo que esta não se concretize. Sobre isto, é preciso refeltir: "Julgar um ato sem não tê-lo aproveitado em sua plenitude é hipocrisia mascarada de Juiz." Jamais o seremos! Nada é seguro, eterno, pleno ou fiel pois que somos irracionais forçando a barra da racionalidade, adjetivando, rotulando, limitando. A vida é um risco e, sem ele, tudo é monotonia. Há um convite: há uma corda bamba, a vida, e andamos nela. Quer segurar minha mão e ariscar comigo? Justifico o convite: vivamos o dinamismo das alterações, vivamos os antagonismos e suas essências: complementemo-nos! Acredita-se que somos os únicos seres vivos que teimam em contar idades, dores, decepções, troféus, conquistas, alegrias e principalmente tristezas. Tento não fazer. Nada contra quem o faz continuamente, claro! Porém, há de se convir que há um 'quê' de insanidade nessa fixação por contar estes substantivos abstratos; contar idade, por exemplo, faz apenas aumentar a melancolia de uma vida limitada e trancafiada em redomas; é afirmar uma mentira deslavada: a idade é proporcional a experiência de um indivíduo. Pura idiotice! Prefira-se, então, viver a essência e os vários olhares que alguém pode ter sobre tudo em detrimento da flexibilidade da aprendizagem eterna a que todos nós fomos submetidos. Criar expectativas, contar idades é limitar-se, é limitar o outro; enclausurar oportunidades. Sem contar que, em fazendo isso, tocam-se as expectativas e resumem-se os desejos e as experiências em medo: medo de se descobrir e ter que mudar por conta dessas possíveis novas descobertas. Façamos diferente para que vivamos, sintamos, vivamos diferente!!! Que venham as experiências e, com elas, a garantia de meu silêncio sepulcral. Afinal, assim tem que ser, pois que, as minhas experiências só farão sentido e terão vida para mim e, se eu as compartilhar, elas correm os risco de receber rótulos, cores, definições, sentidos diferentes daqueles originais que as tornaram minhas! Assim, garanto o segredo e o silêncio às minhas experiências para que elas sejam minhas e chamem outras! Deixemos de contar idades, dores, decepções, troféus, conquistas, alegrias e tristezas, pois que o que vale mesmo a pena é experienciar, dar novos olhares, reformular e resignificar - Por que não? Toda experiência precisa ser vista como uma oportunidade de acrescentar mais uma gotícula ao enorme mar da pequena e rápida vida que temos. Vivo minhas experiências sempre em silêncio, defendendo a exclusividade de viver momentos tão meus que, estes, apenas merecem viver em minha memória: lugar onde tudo faz sentido apenas para mim. Outro convite: vivamos intensamente, experienciêmos sempre sob a garantia do silêncio: adubo e caminho para tantas outras experiências que ainda estão por vir.
Carlos Maciel