PROSTITUIÇÃO DE TALENTO...

Paulo Barreto, escritor e jornalista do início do século passado, quando entrevistava Olavo Bilac, ouviu do parnasiano o que assim descreveu: "(...) limpou os vidros do binóculo e disse: - o jornalismo é para todo escritor brasileiro um grande bem. É mesmo o único meio do escritor se fazer ler (...) Mas se um moço escritor viesse, nesse dia triste, pedir conselho à minha tristeza e ao meu desconsolado outono, eu lhe diria apenas: Ama a tua arte sobre todas as coisas e tem a coragem, que eu não tive, de morrer de fome para não prostituir o teu talento".

Lembraram-me as palavras de Flávio R. Kothe em "O Cânone Republicano" vol. 01, pp. 55-56: "Para Bilac o céu era de brigadeiro: ele estava ao lado dos brigadeiros com suas estrelas, e não brigando ao lado dos desterrados (...)" Entende? Na esteira de Kothe, afirmo: Poesia não é versificação e, menos ainda, Literatura não é retórica. A propósito, ensina o mestre aludido (Flávio Khote): "Toda forma existe em função da função: ainda que a mesma forma possa ser improvisada em diversas funções, ela só se realiza como forma quando é adequada ao pleno desempenho de sua função. Forma é o conteúdo se mostrando; o conteúdo é o fundamento da forma; a forma é a expressão e a existência do conteúdo. A forma não é um esquema a priori e não substitui o conteúdo; a elaboração da forma sempre é reelaboração de conteúdos". Enfim, Susana Kampft Lages (minha colega da Universidade Federal Fluminense (UFF), numa discussão recente sobre a obra de Paulo Coelho, sitetiza bem o que é Literatura: "um texto literário deve ter o poder de produzir questionamentos sobre o mundo, o indivíduo, a história, a sociedade e a própria literatura. A literatura não traz respostas, não é apaziguadora, ao contrário, provoca novas perguntas. Uma obra que tem a pretensão de ser literária teria de apresentar elaboração de linguagem aliada a uma força imaginativa incomum".