Ten Ten
Tá legal. Já falei dos carros que continuam passando ali. Lá, abaixo. Com o Metrô embaixo. O dia parece estar sereno aqui, enquanto alguém coloca o cano na boca e puxa o gatilho por aí. Daqui a pouco tenho que ir ali, enfrentar filas e enfrentar o desdém de mil e quinhentas mulheres. Eu deveria estar acostumado com isso, da mesma forma que me acostumei ao fato de não ser bem sucedido em nada neste mundão de meu deus e de não ter a menor chance pra reverter isso. O problema quando você já se deu muito bem com alguma coisa na vida e ela não dá mais - simplesmente parou de funcionar - é a sensação de inutilidade a cada baforada no monóxido de carbono. "Se você não vive para servir, você não serve para viver" - acredita que eu li isso hoje no pára-choque de um caminhão? Aliás, nenhum outro local poderia ser mais propício pra abrigar um disparate fraseológico desses. A vida não colabora com a minha vontade de viver. E se isto aqui que você lê acabar do nada, a culpa não é minha, pois escrevo pra matar o tempo enquanto não há o que fazer. Quando surgir o que fazer, clicarei em publicar. Pode ser que eu bata a mão no teclado e dê um título qualquer, também. Ontem o dia foi péssimo e eu fui dormir com mais uma blasfêmia na conta. Hoje é aniversário do meu irmão mais novo e eu sempre dei dois anos de idade a menos pra ele quando perguntado sobre. Nós tomamos café da manhã juntos todo dia, sabe? O dia amanheceu neblinado como nunca antes vi. Quer dizer, já vi, mas foi lá em Rio Grande da Serra, em certa manhã de caos. Meu humor ficou ótimo depois de ver a neblina. Só que já no Metrô cheio o sol saiu e eu fiquei com o nariz enfiado em um cara que cheirava azedo - oito horas da manhã e o azedume daquele jeito. Bom, tenho que ir.