Do ser eu - volúvel, insondável ou insolúvel?
Sim, eu o amo, isso é fato - consumado, concebido e consumido. Isso é fato, embora quase tudo entre nós more ou no passado ou no futuro. E, enquanto do futuro só se especula, o passado não faz notícia... faz memórias, a remoer e rever e reviver e rever... Ter? Como poderia eu, se nem ao menos me sei? Já não conheço meu querer tão bem quanto antes. E, do pouco que sei -ou imagino que sim- há uma imensa série de "não sei's". E, nesse meu pouco saber, entendo a imensidão do meu não saber, e do querer, e querer... sem necessariamente "ter que" qualquer coisa. Sem ter que ser, sem ter que ter, sem ter que dizer. Mas entendo também a necessidade alheia, especialmente daqueles que me são tão pouco estranhos. Entendo e, por vezes, desejo a ela satisfazer... Mas não posso... Não posso esquecer que, dentro dela, há um "eu". Um "eu" que é meu e outro, que já não é, embora insista em afirmar que sim.
De certeza, por ora, só me resta uma: a de que sou eu -esse único "eu" que é, de fato, meu- uma cretina. E quanto a isso, lamento... Lamento por ser eu este eu e nada poder fazer ao meu próprio respeito.
O que tiro -e levo comigo- desse tudo, é a certeza -coisa rara entre meus sentires- de que não mereço receber a posse de um "eu" alheio. Menos ainda de multiplos deles! Mal -muito mal, diga-se de passagem- sei o que fazer com meu eu original! E do pouco que sei, faço mal. Quanto ao querer, quero, sim, quero... E quero muito a muitas coisas... e eis aí, este, o grande dilema... que me faz insondável, que me torna, por meus queres, volúvel e que faz do meu sentir insolúvel!