O caso Jair Bolsonaro
O que me surpreende foi o julgamento de alguns, e por isso vim até aqui falar um pouco sobre o que penso a respeito dessa controvérsia. Em entrevista ao CQC, o Deputado Federal Jair Bolsonaro fez declarações, no mínimo, escandalosas. Veja abaixo.
http://www.youtube.com/watch?v=9n4hb0RobhQ
Bom, a não ser que a edição seja tendenciosa, o que não é impossível, o Deputado claramente diz que negritude e homossexualidade são duas coisas que revelam "maus costumes", "falta de presença paterna", dentre outras observações que ajudam a qualificá-lo como "excepcional", palavra que ele usa para falar de si mesmo, no próprio vídeo.
Ele diz que suas influências foram Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Sobre Médici, diz a Wikipédia brasileira,
"Tomou posse no dia 30 de Outubro de 1969, prometendo restabelecer a democracia até o final da sua gestão. No entanto, seu governo foi considerado o mais obscuro e repressivo de toda a história do Brasil independente.(...)As denúncias de tortura, morte e desaparecimentos de presos políticos que ocorreram na década de 1970 provocaram embaraço para o governo brasileiro no cenário internacional".
De Ernesto Beckmann Geisel, diz Helio Fernandes à Tribuna da Imprensa, em 2009
"Quando abriram o testamento-herança do “presidente” Geisel, espanto assombroso: ele deixava, comprovado, 20 milhões de dólares. Amigos, parceiros, familiares e apaniguados, inteiramente surpreendidos. De onde viria essa importância? E como “presidente” tão austero acumulara esse dinheiro?
Na época procurei investigar, e como nenhum órgão de comunicação publicou qualquer coisa, fiquei sozinho. Primeira constatação: naquela época, digamos a partir de 1974, quando o general foi agraciado, que palavra, com a “presidência” da República, o Brasil COMPRAVA anualmente, 20 BILHÕES de DÓLARES de petróleo.
Decodificando os números, chegamos ao seguinte: 10 por cento de 20 BILHÕES, dá 2 BILHÕES. 1 por cento de 20 BILHÕES, não passa de 200 MILHÕES. 0,1 por cento desses 200 MILHÕES, e chegamos aos 20 MILHÕES da herança-testamento. Irrisório.".
E sobre João Figueiredo, diz-nos a Wikipédia que as eleições foram diretas em vários lugares do país, mas em Rondônia, por exemplo, não. Alguma dúvida de que este tipo de conduta responde a interesses pessoais, que não estão relacionados ao exercício da democracia por parte do cidadão que é o político? Além disso,
"Sua gestão ficou marcada pela grave crise econômica que assolou o Brasil e o mundo, com as altas taxas de juros internacionais, pelo segundo choque do petróleo em 1979, a disparada da inflação que passou de 45% ao mês para 230% ao longo de seis anos, e com a dívida externa crescente no Brasil que pela primeira vez rompeu a marca dos 100 bilhões de dólares, o que levou o governo a recorrer ao Fundo Monetário Internacional em 1982."
Da ditadura militar, sente falta da "família", já que aparentemente não existe nenhuma, hoje em dia; da "segurança", Zuzu Angel que o diga e da "ordem pública", vide Complexo do Alemão. Sobre o poder, diz, "só é respeitado aquele que tem o poder de intimidade", colocando a violência, portanto, como instrumento disponível em seu projeto de governo. "Agir com energia é torturar? Então vai ser torturado".
E se tivesse um filho gay? "Não passa pela minha cabeça", ele afirma, e dá dois motivos para que seus filhos sejam imunes à homossexualidade: boa educação e presença paterna. Então, segundo este brilhante homem, está diagnosticada a doença. Trata-se de carências no processo de formação do indivíduo. O gay é um ser incompleto, um projeto falho, é isso, senhor Bolsonaro? Talvez não seja isso que ele tenha dito, não é? Posso estar exagerando. Será? Em seguida, quando questionado se iria a um desfile gay, afirma
"Não participo de promover os maus costumes. Até porque, acredito em Deus, tenho família e a família tem que ser preservada a qualquer custo, senão a nação simplesmente ruirá"
Gays são criaturas sem deus, professores de maus costumes e são um perigo para a família. Proteger os entes queridos dos homossexuais é uma missão, uma luta contra a possível destruição da nação. É quase um "Independence Gay". Até as pessoas negras entraram nessa, como se pode ver no trecho do vídeo em que Bolsonaro responde à Preta Gil. Ela pergunta, "Se o seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?", o que ele categoricamente responde, "Oh, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu".
Resta-nos esperar por uma manifestação do Deputado, explicando suas colocações, a repercussão da imprensa e as devidas avaliações do teor de constrangimento que causou a uma série de pessoas que estão diretamente ligadas ao que foi colocado. E, tratando-se de termos tão abrangentes, acredito que a mobilização contra o Deputado Bolsonaro pode ser bastante expressiva, caso ele não apresente explicações plausíveis para o que estamos tentando não entender.