Manchester Trouble
Se você se pega pensando em alguém ouvindo uma música como 'There is a Light That Never Goes Out', meu amigo, só te digo uma coisa: fodeu. Me peguei pensando em alguém, ouvindo essa música, pensando no prazer que deve suscitar o atropelamento advindo de um ônibus de dois andares. É romântico e bonito se pegar pensando nisso aqui em São Paulo, que desceram o andar do ônibus e dobraram seu comprimento. E é romântico e bonito pensar nisso em qualquer lugar, nesta morte dupla e prazerosa, já que cada um vai pro próprio caixão. Coisa utópica e babaca que uma música põe na nossa cabeça. Ainda mais no meu caso, que fico lembrando de algo que durou um tempo mínimo. Foi aquela merda de "eterno enquanto dure", mas eu queria mais. Porra, pra lembrar da pessoa ouvindo essa música, arrisco dizer que rolaria até casamento! Se você reparar - bom, eu reparei - na letra que até arriscaria "sair de casa à noite pra ver pessoas e luzes"... Eu, que adoro meu quarto escuro com suas paredes amarelas. É algo bem profundo. É uma concessão e tanto, eu diria. E, penso também, que se um double decked bus me pegasse no meio da rua, eu pararia de ser idiota. Talvez seja a única maneira de isso acontecer.
Também fico olhando essa tecla "End", acima da tecla "Insert" e ao lado da tecla "Home".
E quando você ouve uma música que, tendo o nome traduzido, é "O quarto de cedro"? Meu quarto, como já mencionei, é um quarto com paredes. De concreto. Amarelas. A cama é de cedro. Suponho. E é uma cama de solteiro. E quando o refrão dessa música diz "I tried to sleep alone/but I couldn't do it/If you could be sitting next to me (...)" a coisa fica mais complicada, e a complicação triplica quando, puta merda, você queria determinada pessoa ali do seu lado pra te fazer dormir melhor, na paz, dormir sem lembrar que tem compromissos e que enquanto acordado vive acometido de dissabores provenientes de todos os lados! É, é tenso! Você quer abraçar ouvindo a música, quer dormir junto ouvindo a música, tomar banho, transar, fazer farofada na cozinha ouvindo a música, brigar ouvindo a música, se consolar mutuamente. Ouvindo a música, claro!
"Sex is on everybody's mind... Every song is about sex."
Discordo, Mr. Morrisey!
Essas músicas não me trazem sexo. Trazem sentimentos que ficaram perdidos por aí, na sarjeta, com pessoas que foram eleitas para recebê-los mas não quiseram ou puderam ou não estavam prontas para tal fardo.
Se o que me remetesse à música fosse sexo, eu desligaria o som e pagaria uma puta.
O custo psicológico é melhor e é mais saudável, no que se refere às inconstâncias de humor.
E, na verdade, Manchester é uma cidade cretina!
Por que produzir The Smiths e Doves num mesmo lugar, Cristo?
Eu choro.
The Smiths - There Is a Light That Never Goes Out
Doves - Cedar Room
14/11/2010 - 21h35m