Missão
Penso que haja uma linha muito tênue separando a função educativa da função instrutiva. Não obstante, tão danosa uma possível confusão dos conceitos, que pode e, de fato, coloca em xeque toda uma nação. Sabe-se lá por quanto tempo, ainda por cima. Será que estamos, realmente, formando "a inteligência, o coração e o espírito de" alguém, ou estamos, em maioria, empurrando informação pra dentro de um cômodo sem luz?
Educar não é fazer do outro o espelho do próprio conhecimento. Isto seria compreender o saber como uma tocha que é passada para a geração seguinte, trazida lá do jazigo de Prometeu, onde ainda lhe comem o foie gras durante o dia. Educar é edificar a reflexão, desenvolver o sistema de raciocínios, a percepção das lógicas; é estimular a expressão do juízo, e também deixar abertos os caminhos para aquilo que se eleva além do objetivo, que tem a potencialidade de um tudo, a linguagem livre dos grilhões da exatidão comunicativa: Arte.
Desta, faz-se o movimento contrário, sua repercussão semântica, pluralíssima, pode ser orientada e servir de base para uma ação objetiva, a construção de um discurso próprio. Toma-se, assim, uma face das muitas que a obra oferece, para que o dizer particular tenha uma maior força persuasiva, para que a aura produzida pela obra de arte faça do discurso construído um instante de verdade, gerando o convencimento e a transformação do status de criatura e criador. O importante é que a todos seja dada a oportunidade de fazer este movimento de construção da sua proposta de verdade. Esta é a verdadeira sociedade democrática, pois permite que no processo educacional se construa a liberdade de transformar o meio, graças ao exercício de três pontos que utilizo para florear o caminho: cognição, reflexão, expressão.
O que se tem, de fato, é uma educação que utiliza a própria totalidade do conhecimento como instrumento para construir e manter os diferentes níveis de relacionamento em sala de aula. Os saberes acadêmicos são passados sobre estruturas que não foram sequer mencionadas, para que assim pudessem chamar a atenção do indivíduo a algo que já nele existe. O autoconhecimento é limitado, as fundações cedem diante do desafio, porque frágeis. Por isso as tantas desistências nos cursos livres. Nestes espaços, diga-se de passagem, vivem grandes aberrações do ensino.
Uma revolução na educação alteraria os padrões de vida neste país, mas de uma forma tal, que dificilmente os homens e mulheres, que se aproveitam da ignorância para continuarem ricos, conseguiriam manter seus status. E por isso existe o cultivo do analfabetismo funcional, da formação sem orientação, do adestramento social para a execução dos planos previstos em pauta.
Desta forma, o que temos no Brasil é uma grande ironia, que vai da Esquerda à Direita, de Norte a Sul, e que está sendo subsidiada pelo suor das classes trabalhadoras. A construção de escolas, o número de concursados, a política chula da agitação das massas, o imediatismo tacanho de um suborno travestido, fazendo as vezes de solução. Não, apenas criou-se currais e encheu-se as baias. Isso não significa que o ato educativo acontecerá em virtude do desenvolvimento pleno dos homens comuns.
É desta forma que se acentuam os problemas, que se aumenta a diferença entre os grupos, que se faz da vida social um caos. Assim é que se fazem os medos, os pesadelos, as vidas muito duras de levar. É essa máquina que cultiva a alienação, que joga um jogo onde sabe todas as regras e pode manipulá-las ao bel prazer, quando não simplesmente ignorá-las, que deve ser revolucionada. Não podemos permanecer sob o julgo dos homens bons.