Da história, dos brinquedos e do natural

Podei os galhos fracos, e a árvore fez-se maior

Tateei meu próprio refúgio, numa manobra arriscada e cruel

Era cedo, e pouco havia pra ser ver

E foi buscando não cair, que não voei e fui mais longe

Ou quem sabe não comum, medi mal por não saber

Do alto de uma experiência errada, avariado e confuso

Jurei que eu era vão, um pouco torto, um pouco mudo

E o pior é que quase nunca gosto mais do que tenho, quanto gostaria se não tivesse ou não visse

Iniciou-se o luto, acabou o mundo

Que viagem foi essa que fiz da calma ao desespero?

Da cama ao precipício, acordando pra ouvir

Época essa em que gastei meu saber com imperfeição

Briguei com meu passado, brincando de não fui

Sobre a cama, aquela velha camada de gelo, tão espessa quanto queima

Num susto ontem, quase grito … calei, sem fôlego, e esperei uma hora melhor

Saltando os acertos, ainda me sobra o tempo quase todo

Niilismo breve sobre os homens e seus carros

Sobre a vida e seus brinquedos, sobre os postes e as estradas …

Que levam homens e seus brinquedos, por sobre vidas desmontadas

Por sobre carros … projetados porque a vida é sempre o melhor dos brinquedos

Em janeiro faz exatamente frio

Depois de um ano todo, um desgosto todo sem gosto …

E em um mês, no máximo dois …

Um suspiro, quase nervoso … meio alertando

Ah, o fato de fazer de todo pensar um penar de não ter

Rima com o intuito de não esperar

Casa com o rumo de nunca encontrar

Mas rebate a si mesmo, que tarde é a hora em que os homens felizes se felicitam e brindam

Pois não é tão doce escolher

Como se pensa ao se ver

Mas no final vale a pena

Mais do que não pedir

Abrir o corpo, sair …

E remar sempre, porque um dia as ondas haverão de baixar.

Daniel Sena Pires - Da história, dos brinquedos e do natural (18/03/2011)