Cartesianismo às avessas...
- Penso, logo existo! Frase famosa de Renè Descartes.
Infelizmente o que temos vivido ultimamente não é a máxima de um “penso logo existo”, é uma máxima diferente, “penso do outro e logo é verdade e fato” e o pior não é apenas pensar, falamos, como “verdade absoluta”.
Esse cartesianismo às avessas, porque não me remete à mim mas ao outro, é causa de intrigas, tristezas e angustias...
Observamos uma pessoa: suas vestes, sua forma de andar, falar, etc e imediatamente já fazemos uma avaliação, julgamento e condenação desta pessoa, tendo por base não a complexidade do ser humano e das circunstâncias, mas apenas e tão somente nossas próprias considerações e nosso mundinho particular.
Nossas avaliações e julgamentos não saem do superficial e ainda assim proferimos verdadeiros verídicos sobre alguém. Somos capazes de fazer analises tão pretensamente profundas, quanto completas e tendo por base o que (?), a mesquinhez do nosso olhar! O paradoxo é evidente: completude e profundidade construídas sob um chão raso e limitado, e o paradoxo continua, essa “verdade” que “construímos”, pode realmente ser tomada como “verdade” para muitos e destruir alguém.
E aí o paradoxo se encerra: essa “verdade” é uma mentira, isso se ainda não for inveja, ciúme, ganância, etc e como toda mentira ela é destrutiva. Isso é verdade! Sem aspas!
No mais, devíamos ter a humildade de assumirmos que nossas interpretações e considerações são apenas nossos traumas e complexos gritando e tendo como alvo o outro. E se é assim, e de minha parte penso que não são raras e nem poucas as vezes que é assim, então deveríamos ter a decência de proferirmos nossos verídicos somente a respeito de nós mesmos, nunca a respeito do outro.
Você acha que o outro não deveria nunca usar aquele tipo de calça, ou que aquela lá deveria se tocar e cortar o cabelo, ou então que estudar um pouquinho e falar menos errado faz bem para todo mundo... ora, ora, ora o que acontece é que esta pessoa tem um tipo de coragem que você não tem, ou pelo menos é dotada de uma tranqüilidade que você nunca será capaz de sentir e por isso é tão ultrajante!!
Valéria Trindade