Falar
Hoje acordei pensando que não tenho escrito nada ultimamente. Nem sei como tenho conseguido dormir, com tantos pensamentos gritando na mente e não canalizá-los, realizá-los. Fico pensando o que tem me (des)motivado a seguir por essa letargia constante e chego à conclusão de que não tenho conseguido acompanhar tantos assuntos sobre os quais gostaria de falar.
Cinema, música, política ou simplesmente o dia a dia, vilão cotidiano do nosso equilíbrio e saúde mental. Talvez eu esteja sucumbindo lentamente, queimando meus neurônios com cachaça e cigarros, e me distanciando da minha sensibilidade e do meu senso criativo, que outrora ferviam sob difrentes formatos. Eis que, com pouco mais de quarenta, sou uma velha com pensamentos dispersos.
Essa condição tem me incomodado muito. Sei que tenho boas ferramentas e eficientes meios disponíveis pra lançar mão do mundo, mas sinto como se uma porta se abrisse à frente e o gigante mundo de possiblidades fosse me reduzindo a um ser bem pequeno, que se mistura à grande massa do senso comum.
Mas ainda me resta uma esperança. Esse texto é uma esperança. A de que ainda consigo reagir ao rolo compressor que esmaga minha mente e alisa minhas ideias, porque uma vez identificado o problema, ato contínuo procura-se uma solução. Cá estou. E hoje resolvi falar sobre o meu não falar, sobre a minha visão acabrestada do mundo, ainda que por dentro eu não aceite muito do que me é apresentado.
Lembro que na adolescência (não na minha, mas na de qualquer um) qualquer tema era motivo pra que eu me posicionasse pronta e firmemente, defendendo aquilo que acreditava ser o certo, o ponto de partida para a construção da minha personalidade e, por consequência, as primeiras linhas traçadas para o meu futuro. Nunca fui arrogante. Disso tenho consciência. Acho até que me preocupava muito o que as pessoas pensavam. E sou assim ainda hoje. Naquela época, respeitar a opinião alheia era uma forma de colher, criteriosamente, elementos para me colocar, fosse contra ou a favor. Hoje não colho os pontos de vista. Acho que aceito por cansaço. Preguiça de emplacar uma discussão que pode acabar em pura balela e não levar a lugar algum, ou terminar em tragédia. Isso. A violência também me acuou ao longo dos anos, especialmente depois que me tornei mãe, o que pra mim tem cinquenta por cento de sentido e outros cinquenta de contradição. Isso eu digo porque a partir do momento que nos tornamos mães temos o instinto defensor potencializado, viramos feras em defesa da cria e somos capazes de lutar sozinhas contra manadas ensandecidas. Por outro lado, proteger a cria torna-se um fato, um fardo, um sofrimento constante e você só quer mesmo é esconder o bichinho debaixo das suas asas e fazer com que evite os predadores do mundo. No fim, essa é a grande sacada. Ficar à margem pra ver de longe, como quando se vê um acidente e se condoi com as vítimas.
A isso chamamos "vida vicária". Ver a cara do sofrimento, do medo, sabendo que aquela dor você não vai sentir. Apenas presumir.
Até que falei bastante...