Apesar da Vontade

"O espelho reflete certo; não erra porque não pensa" - Alberto Caeiro

Vontade de agarrar por trás e morder a nuca. Vontade de lambuzar os dedos com mel. Vontade de sentir o cheiro acre que ronda o períneo - aquele é-e-não-é-cu-e-é-e-não-é-xoxota. Vontade de ficar com os lábios ardendo do atrito com pêlos da vulva. Vontade de abocanhar as carnes pulsantes de uma boceta quente com a ponta do indicador roçando no cuzinho depilado. Vontade de sentir meu falo sendo sugado, chupado, lambido, babado, punheteado, idolatrado, cultuado, cavalgado e embalsamado/envolto por/em uma panóplia carnal arquejante. Vontade de dar estocadas certeiras, rápidas, fortes, e, fazer os testículos retumbarem como chimbals nas paredes da virilha de uma fêmea. Vontade de enrolar o cabelo nas mãos e puxá-lo até o couro cabeludo arder e vontade de sentir um grelo endurecendo entre os meus dentes e/ou na ponta dos dedos. Vontade do cheiro de cio proveniente da amálgama de suores impregnado nos lençois. Vontade da virulência pré-gozo, da agonia deliciosa e insuportável que permeia os poucos e intensos segundos de um orgasmo. Vontade de meter, trepar, copular, foder; foder até dizer chega, foder até sentir a gravidade quadruplicada de tanta exaustão; foder até o Juízo Final, foder até 2012, foder até o Apocalipse.

"(...) - digamos: em todo querer há, primeiro, uma multiplicidade de sensações, a saber, a sensação do estado ao qual nos DIRIGIMOS, a própria sensação desse "AFASTAMOS" e "DIRIGIMOS", e então, ainda, uma sensação muscular concomitante, que, por uma espécie de hábito, ainda que não coloquemos "braços e pernas" em movimento, principia seu jogo tão logo nós "QUEREMOS" - Friedrich Nietzsche

Amor e sexo são coisas dispares que juntas formam um cobiçado todo. A completude oriunda do ato com o sentimento parece ser para poucos. A maldita animalidade da carne e o sentir especial parecem ser antípodas - pra mim, na atual conjuntura.

É sabido que amor não levanta pau e sexo não enlaça quem quer que seja nas amarras invisíveis da cumplicidade por muito tempo; o pós-gozo de uma transa fortuita, ocasional, promíscua e perpetrada às pressas ou sem diálogo é horrível ao ponto de a possiblidade de um derrame ser mais idílica do que ficar o período de tempo necessário para o coração voltar a pulsar brandamente anunciando a ergastenia enquanto o remorso pelo erro cometido surge através de um suscitado (redundância?) gesto falsamente afetuoso de um desconhecido nu diante dos olhos - ou mesmo um conhecido que não era pra estar ali.

Sufoca-me a necessidade carnal pungente ao ver tantos bodes expiatórios à disposição portando seios e bocetas quando o que eu quero é a simples dificuldade de atrelar tais atributos a um amor que eu não consigo sentir; o que tem me permitido manter a condição de - fisicamente - asceta já trilhando o caminho da misantropia para evitar desgostos futuros que já não suporto nem pensar em viver novamente.

Sinto vontade de trepar: meu corpo clama por sexo! Mas a minha necessidade de sentir um pouco mais do que paixão para corroborar com isto tem me castrado de saciar tais vontades.

Porque eu quero.

Porque eu comando o meu corpo.

E eu não quero principiar esse jogo.

Apesar da Vontade...

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 17/03/2011
Reeditado em 17/03/2011
Código do texto: T2852738
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