• Cansaço...
Hoje a voz do meu cerne está sufocada; o meu coração, opresso e perdido - como se jogado e esquecido numa fenda d’alma... Sinto sombras de mim mesmo à espreita nos obscuros cantos que me circundam, estando eu a ser observado por aqueles que não posso nomear.
Suave música preenche o ambiente enquanto em palavras, versos e caracteres esparsos deposita-se o eu. Curvo nas esquinas do meu quarto – em passos vagarosos, quase síncronos – e detenho-me com os cotovelos apoiados sobre a pequena estante de livros encostada à janela. Observo as nuvens e estão de um azul vivaz, tão magnificamente simples e belas. Eu adoro o céu, o horizonte e as sensações que me propiciam. Próximo à janela há uma árvore de secos e tortuosos galhos onde, no mais alto, há um pequeno pássaro que entoa suas canções e nos agracia com sua estrondosa beleza. Outras árvores têm suas folhas chacoalhadas pela brisa suave que ora me acaricia a face e estremece-me com um leve arrepio. Ouço o riso de crianças que brincam não muito longe daqui; ouço o distante ronco de carros que passeiam pelas ruas da cidade numa manhã de domingo; observo as pessoas que passam...
Como já dizia meu homônimo: “...não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para p’ra que tu o consertes.”
Desejo de mim mesmo me extrair numa tela à óleo, também composta esta por alguns tons de pastel... Ser carregado pela melodia emanada ao toque gentil nas pesadas teclas do meu piano. Se pudesse, desejaria ser diluído no ar... Tornar-me uno com o universo, com todas as coisas. Será que eu tenho algum propósito? Será que isto, afinal, existe? Qual seria o meu?
Eu me sinto enclausurado neste corpo... Sinto-me limitado por ele. Sou um ser em constante transição... nem sempre para melhor. Mas o que é o melhor e o que é o pior? Sou eu e apenas e eu, e outro de mim não houve, não há e jamais haverá. Faz-me um imenso bem ter a percepção de como cada ser é único. Isto me permite amar a cada um da forma mais intensa e pura que eu poderia. E embora não costume expressar o meu amor e o meu carinho – tumba humana que sou – espero que eles saibam que eu os amo. A vida me cansa... Às vezes gostaria apenas da confiança n’algo mais a frente do aquém e além... Se a tivesse, ah...
[#13/03/2011 às 12:05]