Quase, Ébrio

Quase. Palavrinha maldita. Faltou pouco. Não fossem os seixos coloridos. Não fossem os tropeções. Quase, quase. Não fossem os tragos, as drogas, as penúrias do horário comercial. Esses foguetinhos vermelhos que eu vejo subindo e descendo quando fecho os olhos tendo como pano de fundo a escuridão do nada. Quase. Luz baixa, cinzeiros cheios, facínoras cofiando bigodes ralos. Quase deuses, quase tão bons quanto o oxigênio. O ódio impregnado na lenha dentro do forno. Quase. Fusão de passados, amálgama de cadáveres ilusórios. Que medo do desconhecido é este? Corte os pulsos se a covardia te encoraja a embrutecer o que te impele a agir. Haja covardia! Aja covardia! Sinos, faróis de neón. A abóbada celeste negra, o negrume da quietude Universal; estrelas cricrilando? Quase. Quase humano. Quase melhor. Quase contemplado. Quase trôpego, quase torpe. Surtos. Dédalo trancafiou-te em sua invenção. Creta da incerteza. E eu com um novelo de lã, desenhando no chão o "Q" e o "U" e o "A" e o "S" e o "E".

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 12/03/2011
Código do texto: T2842808
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