Porque Nada é Tão Ruim Que Não Possa Piorar

Olá, leitor.

É engraçado conversar com alguém sabendo que não apenas uma pessoa lerá, mas sim várias, mas para tudo se tem uma primeira vez.

Já teve um dia em que tudo – digo absolutamente t-u-d-o – te irrita? Parece que as coisas simplesmente não gostam de você nesses dias, o mundo conspira para tudo dar errado.

Meu dia está sendo como um desses. Não começaram a acontecer essas coisa irritantes apenas quando acordei, as coisas começaram ruins já à meia-noite e meia! Eu devia ter previsto alguma coisa, mas pensei que seria um dia bom, sem precisar ir para a escola por ser quarta-feira de cinzas, dormir até mais tarde seria ótimo.

Tudo começou quando tudo estava escuro no meu quarto e eu assistia a um ótimo filme de serial-killer (já comentei que amo esse tipo de filmes?) pelo meu computador, mas no meio do filme o player parou, na parte mais emocionante! Logo pude ler o aviso do site da internet: “Como você está vendo o vídeo online, terá que esperar trinta minutos para poder terminar de assisti-lo, ou se preferir assine nosso PACOTE PREMIUM.” Mas esperar não seria um problema. Resolvi passar esse tempinho conversando no Messenger e chamei meu melhor amigo, que decidiu não me responder até que o filme recomeçasse. Como estava sozinha sem poder conversar com mais alguém, procurei um joguinho na internet, mas – por incrível que pareça – nenhum funcionava. Passei a meia hora olhando para a área de trabalho do computador sem fazer nada. Mas não demorou muito, demorou apenas meia hora, né? E finalmente terminei de ver o filme.

Fui me levantar para por a bacia de pipoca na cozinha, mas me esqueci que ainda estava pela metade e ela se espalhou por toda a cama. Quase tive um ataque do coração de susto, mas pacientemente juntei toda a pipoca, levei para a cozinha, troquei a roupa de cama e guardei o computador para dormir. Nem percebi que já eram quase duas da manhã. Mas crente que eu dormiria até mais tarde, me deitei confortavelmente e dormi.

Me surpreendi quando ouvi a voz da minha mãe me chamando às seis horas da manhã, só então me lembrei que minha casa estava em obra e eu jamais poderia ficar em casa sozinha com os pedreiros. Lá fui eu me levantar e me arrumar para ir passar o dia na minha avó. Não que eu não goste de lá, mas não tem nada para se fazer. Não tem internet, não tem TV a cabo, não tem besteira para comer, não tem lan-houses por perto, apenas uma vendinha que estaria fechada e não tem ninguém da minha idade na rua para conversar. Fora que ela tinha que ir a vários lugares, então eu ficaria sozinha boa parte do dia, lembrando que meu celular está quase sem crédito e o fone de ouvido está quebrado.

As únicas coisas que eu poderia fazer eram desenhar (isso não seria nenhum sacrifício), ler o livro para a escola (isso seria muito útil) e escrever. Mas estava completamente sem inspiração para desenhar ou escrever, então me restava ler. Super empolgada e surpresa por achar um livro da literatura brasileira interessante, passei um bom tempo lendo, foi uma parte boa do meu dia, até que a minha personagem preferida do livro morre. Não reclamo de sua morte, foi uma boa morte, mas tinha que ser justo ela?

Enfim, parei de ler e fui desenhar, mas justo hoje o gato resolveu que ia se vingar de todas as vezes que eu não o deixei dormir o ano inteiro. Gato me arranha, gato pula em mim, gato pula no estojo, gato corre, gato deita em cima da minha prancheta enquanto estou apontando o lápis. Desisti de desenhar, fui ver TV com a minha avó (a escola de samba pra qual eu estava torcendo não ganhou), mas logo minha mãe chegou para me buscar.

O rádio do carro também estava envolvido na conspiração para me irritar e entediar, e como era novo e nem minha mãe e nem eu sabíamos mexer muito bem, nem abaixar o volume eu estava conseguindo. Pelo menos o ar condicionado do carro estava funcionando.

Chegamos em casa e minha mãe teve que ir ao banco, meu pai foi com ela e eu resolvi ficar para tomar um banho e fazer as unhas, pois quando eles chegassem estaria pronta e poderia apenas escovar os dentes e dormir. Já pronta para tomar banho, dentro do Box, abri o chuveiro, mas percebi que a água não esquentava. Usei o antigo método infalível para fazer os eletrodomésticos funcionarem: bati nele. Mas esse incrível método infalível falhou. Frustrada por não poder tomar um banho quentinho a noite e conseqüentemente não poder fazer as unhas, resolvi esperar meus pais na internet, mas a internet simplesmente resolveu não funcionar. Passei meia hora mexendo no fio do modem para resolver como das outras vezes, mas não funcionou, em seguida fui procurar o numero de atendimento ao consumidor da operadora da internet, e demorou mais uma hora para conseguir achar. Passei mais uma hora no telefone com a atendente, e enquanto eu tinha que esperar para ver se o modem funcionava podia escutar as risadinhas e conversas dela com os colegas de trabalho, e sem motivo nenhum fui me irritando mais. Àquela altura qualquer coisa me irritava. Quando ela voltou me disse que o problema não podia ser resolvido e podia ser por causa das chuvas. Demorou mais de uma hora para ela me falar isso.

Cansada de tudo, resolvi escrever, e aqui estou eu, esperando o chuveiro ser consertado e rezando para poder tomar banho antes da meia-noite. Foi um dia bem longo, mas eu não me surpreenderia se mais alguma coisa acontecesse, porque nada é tão ruim que não possa piorar.

09.03.2011