A muralha

Gostaria de sentir o seu hálito encostando-se nos meus lábios ressecados pelo tempo uma única vez, uma única manhã encostada na muralha daquele prédio, onde tudo começou, onde a esperança bateu forte e permaneceu congelada.

Gostaria de ter a oportunidade de me encontrar sempre com os seus olhos, da mesma maneira como foi naquele dia chuvoso, meus olhos penetraram nos seus e o tempo se fez noite, parecia noite, meus dedos atrofiaram-se de tanto prazer parecendo uma idosa de poucos 70 anos.

Gostaria de ter a chance de ouvir cada palavra que a sua boca sussurra não tão de longe e sim pertinho, arrepiando cada centímetro da minha pele que ficou paralisada pelo tempo, pela falta.

Não consigo entender a forma como tudo aconteceu como a sua imagem fica perambulando meu travesseiro de noite atrapalhando o resto de sono que me falta.

Fico buscando pelo seu nome em cada canto da rua, em cada estatua que como de costume se mexe na avenida, busco um olhar igual o seu, um sorriso que seja próximo o seu e nada faz sentido na terça feira chuvosa, quando já faz um tempo que eu não te vejo confundindo cada estação do meu corpo, cada forma que mantinha intacta, cada sentimento, cada pedaço ainda puro dentro de mim.

Por favor, deixa- me sentir você, cada vez mais próximo, já não me importo se tens companheira pra essa noite, não deixe- me sozinha, perdida.

Diz-me, por favor, que não é tarde demais, que ainda busca por algo novo, que pretende cair na tentação dos meus braços, diz que quer continuar ainda observando cada espaço daquele prédio que nos separa, daquela muralha.

Vem juntar cada parte que ainda nos falta, transformando o mirante em uma imagem perfeita, juntando os pedaços que sempre busquei.

Vem fazer das cores dos nossos olhos exemplos para as tempestades, para os dias feios.

Vou entender se não quiser nada fixo nada oposto, mas não me olhe mais daquele jeito, como se estivesse entregando cada parte do seu corpo em minhas mãos, cada alma, cada espaço seu, como se ali, sem fala, sem gesto, sem movimento você se jogasse em cima de mim e a sensação que tive é que estava em seus braços, estava abraçada com você como sempre quis forte, tão forte, assim como um sonho, como um vento que teima em não passar.

Gabriela Carvalho
Enviado por Gabriela Carvalho em 08/03/2011
Reeditado em 08/03/2011
Código do texto: T2835656
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