Sobre Um Chamado Deus Desconhecido
"Mais uma vez,
Antes de prosseguir caminho,
E olhar para a frente,
Ergo, solitário,
Minhas mãos a ti,
A ti, a quem me refugio,
A ti, ao qual consagrei altares,
Solenemente,
Nas mais profundas profundezas
Do meu coração,
Para que, em todos os tempos,
Tua voz me chamasse novamente.
Gravada profundamente
No meu altar,
Resplende a palavra:
AO DEUS DESCONHECIDO.
Dele eu sou, ainda que,
Até a presente hora,
Permaneça no bando dos ímpios.
Dele eu sou, e sinto os laços
Que me arrastam à luta,
Lá embaixo,
Que, embora eu fuja,
Me obrigam a servir-te.
Quero conhecer-te,
Ó Desconhecido!
Tu, que empolgas minha alma
Profundamente,
Que, qual tempestade,
Penetras minha vida,
Tu, O Inatingível,
Que és afim comigo.
Quero conhecer-te - quero até
Servir-te."
Friedrich Wilhelm Nietzsche
Inomináveis Saudações a todos
O poema acima foi encontrado entre os escritos póstumos de Friedrich Wilhelm Nietzsche e, aparentemente, vem a atuar contra a sua famosa veia ateística. Se quiserem conferir a veracidade e autenticidade de tal poema, consultem o livro Agostinho, de Huberto Rohden, do qual retirei a citação acima para desenvolver a esta reflexão. Muitos que conhecem a filosofia nietzscheana, um misto de genialidade filosófica-poética com rompantes de delírios colossais que muitas vezes beiram a utopia, na opinião deste Inominável Ser, devem estar se perguntando: Nietzsche clamando a um Deus Desconhecido como um religioso que ele tanto condenava nas atitudes demasiadamente piedosas? Para quem pensa assim, digo que todo declarado ateísmo é uma possibilidade talvez de busca interior para um sentido de tudo. Este Inominável Ser aqui não crê em um "Senhor Todo-Poderoso" antropomorficamente moldado, com características humanas, qualidades humanas. Posso dizer-me um ateu com crenças inomináveis, em um Inominável Desconhecido De Uma Fonte De Poder Inominável Da Criação. Por isso, identifico-me com o poema acima de Nietzsche extremamente, pois em um momento de dor e solidão ele foi desenvolvido em um papel além do papel que conhecemos e com o qual lidamos aqui neste mundo. A temática desta reflexão pode parecer mística e ela, se porventura algum ateu estiver lendo-a, um ateu que nem aceite uma busca por Algo Maior, tem tudo de mística se considerada como a análise de uma clemência a um Deus Desconhecido. Com olhar filosófico-poético, o mesmo olhar nietzscheano, poderemos acompanhar a exata superfície do solo interior percorrido pelo filósofo alemão. Diante da montanha perdida dos sonhos maiores perdidos, todos os sonhos de paz e de tranqüilidade, de amor e de felicidade, um homem pode olhar para dentro de si mesmo como quem olha para as constelações mais desconhecidas do espaço que acima de nós encontra-se. E as forças de tal homem estão gastas, ele sente-se vencido, ele sente-se fracassado, ele sente-se perdido em um mundo que não lhe é o mundo amigo com o qual tentou se identificar como ser vivente plenamente. Então, nesse momento de falta de forças, nesse momento de vencida situação d'alma dele, nesse momento de fracassada jornada, nesse momento de perdido torpor, o tal homem pede forças para prosseguir em sua caminhada. Como no poema, tal homem tece o seu poema interior orientando-se nos passos interiores de seus próprios esforços e reforços na busca pelo que ele considera como acima de si. Erguer as mãos para O Alto torna-se uma atitude humana comum em homens assim, homens que nas solidões várias de seus seres sentem a necessidade de um Ser Maior. Homens assim sentem a necessidade de terem um Ser Maior no qual ponham todas as suas esperanças de realização da sua paz, da sua tranqüilidade, do seu amor e da sua felicidade. Nas mais profundas profundezas de nossos corações humanos, em algum momento erguemos um altar na busca por algum sentido no que desconhecemos e denominamos como "Deus", "Brahma", "Allah" e tantos nomes estranhos ao que é Desconhecido. No poema está o desejo do encontro com um Deus Desconhecido, mas qual Deus Desconhecido? Aqui está o que não torna o poema de Nietzsche a súplica de uma alma simplória religiosa que não´possui forças para erguer-se sozinha sempre que cai. Falei de um tal homem acima no momento de maior desespero, insegurança e autodestrutividade, mas agora digo que erguer as mãos para O Alto não significa clamar a uma moldura humana que a tudo governa de seu trono. Erguer as mãos para O Alto é um Ato Interior, Ato próprio dos humanos que querem conhecer O Inatingível, ou seja, a si mesmos como Verdadeiros Seres Verdadeiros. Se o pessimismo vem a dominar muitas de minhas palavras em todos os meus textos, o otimismo aqui presente neste Inominável Ser, ainda que pequeno, ainda que triste, leva-os a refletir sobre as buscas inseguras que podem ser feitas através das nem sempre confiáveis palavras de certos doutrinadores religiosos e das buscas seguras que podem ser feitas interiormente seguindo as próprias palavras de doutrinadores silenciosos presentes n'alma. O Inatingível é O Desconhecido dentro de cada um de nós e, como eu lhes disse na reflexão Sobre Uma Onipotência Desconhecida, quando Revelado em cada um de nós deve ser mantido em segredo no que possui de mais secreto. Não me tornei melhor e nem pior, Iluminado ou santo, após o meu encontro com a Fonte De Poder Inominável. Continuo humano como todos vós, errando, caindo, me erguendo, perdendo, ganhando, saindo, indo, vindo, ficando, parando, morrendo, vivendo, sempre prá lá, sempre prá cá, como Zaratustra em um grande bailar por pontes, cordas, morros, montanhas e montes... Continuo, como Nietzsche escreveu, demasiadamente humano, eternamente retornando aos meus erros, quedas, perdições, ganhos, saídas, idas, vindas, permanências, paradas, mortes, vidas, sempre prá lá, sempre prá cá, como eu mesmo a bailar em minhas pontes, minhas cordas, meus morros, minhas montanhas e meus montes... O que penetrou em minha existência, eu não vou falar... Na de Nietzsche penetrou uma sabedoria que ilumina quando bem interpretada. Friedrich Wilhelm Nietzsche, em si mesmo, conheceu a um Deus Desconhecido: Friedrich Wilhelm Nietzsche.
Saudações Inomináveis a todos.
Texto originalmente publicado em meu falecido blog no Windows Live Spaces, denominado Sobre Filosofia E Poesia E Música E Magia E Mundo em 30/08/06. Republicado aqui com modificações.