Satan Oculto E Adormecido E Desperto
"Potestades do Céo, dominios, tronos
Se em seu golpho o mesmo Abysmo
Nosso imortal vigor, posto que opresso,
Segundo vedes, embargar não pode,
Não julgo para nós o Céo perdido.
Virtudes celestiais que se alevantam
De queda tão tremenda mais gloriosas,
Mais fortes, mais terríves que antes d'ella,
Não mais teem que temer de outra derrota
Confiando em sua innata valentia.
Eu que por fixas leis, justiça eterna,
O vosso chefe sou, des'que existimos,
Também me honro do jus a tal grandeza
Por vossa livre escolha conferido,
E do que nos conselhos, nas batalhas,
Meu merito prestante me grangeia.
Até por fim os infortunios nossos,
Em grande parte reparados hoje,
N'esta suprema altura mais me firmam
Pois que n'um solio estou da inveja a salvo,
Possuindo alto poder, honrarias, delicias,
Pode ser invejado do Céo o trono;
Mas quem no Inferno invejará tal sitio
Que mais erguido, qual baluarte vosso,
Mais do Deus vingador se expõe aos raios
E a ter maior quinhão na infinda pena?
Onde bens faltam, que ambições provoquem,
Não ha de que temer a rebeldia:
Ninguém põe mira na realeza do Orco,
Nem ambicioso quer que mais avulte
A pena atual que diminuta soffre.
Fortes d'esta vantagem, procuremos
Com mais acordo e união, com mais lealdade
Do que vimos no Céo, ganhar de novo
De nossa herança justa o ancião dominio,
Mais certos do sucesso afortunado
Do que se elle nos viesse da fortuna.
Versa o debate sobre sobre qual dos modos
Convêm, se guerra aberta ou trama occulta.
Falae, expande os parecêres vossos."
Satan discursando,
Canto II de
O Paraíso Perdido
Inomináveis Saudações a todos.
O trecho acima de O Paraíso Perdido, do poeta inglês John Milton, diz muito acerca de muitas verdades inseridas em suas palavras. Verdades que poucos podem ver. Verdades que todos podem ver. Verdades que muitos não querem ver. Verdades que muitos recusam-se a ver. Verdades que apenas ao fátuo toque do desejo de conhecer podem dizer tudo acerca do ir, do vir, do acontecer, do não ir, do não-vir e do não acontecer de todas as Coisas Moldadas. Não houveram erros de português acima, apenas utilizei o português do século dezenove da edição portuguesa do ano de 1884 daquela obra-prima magistralmente coroada com muitas Verdades Ocultas E Certezas Encontráveis Para Aqueles Que Buscam Encontrar Toda Certeza No Grande Mar Material E Espiritual Da Criação. O idioma português atual, comparem, perdeu toda a beleza que possuia tanto na escrita quanto na fala devido às "grandes revisões idiomáticas" que houveram após o século dezenove. Mas, eu não vou falar nesta reflexão acerca do nosso idioma. Vou falar de Satan. Esta é a terceira vez que estou escrevendo esta reflexão, mas parece que Algo a esta impedindo de ser publicada. Seria Satan? Ou estou fantasiando, imaginando, Algo que não existe? Satan pode ser um mero mito. Satan pode ser uma mera fantasia. Satan pode ser um mero fantasma. Satan pode ser uma mentira. Satan pode ser uma verdade. Satan pode estar agora aqui ao meu lado, inspirando-me, permitindo-me sobre Ele escrever. Ou eu posso estar, apenas como poetas e escritores, a falar de alguém imaginário, um personagem do inconsciente coletivo que foi moldado para ser um bode expiatório de todos os crimes humanos, para que os crimes maiores, crimes menores, crimes eternos ou crimes temporários da Humanidade tenham uma desculpa para serem explicados. Talvez Satan, Aquele Que Foi Lúcifer, O Portador Da Luz, A Estrela Alva Da Manhã, Aquele Que Desafiou Aquilo Que Possui Muitos Nomes Mas Não Possui Nenhum Nome, exista. Os místicos dizem que apenas podemos encontrar o Nosso Pai Creador, O Princípio Que A Tudo Manifesta Eternamente, se olharmos para o nosso Eu Verdadeiro, o nosso Ser Interno. Invertamos essa Busca Maior e imaginemos, Irmãos Blogueiros, um suposto místico procurando em si a Satan. Tal místico teria Satan em si. Tal místico veria Satan em si. Tal místico compreenderia Satan em si. Tal místico aceitaria Satan em si. Tal místico abraçaria Satan em si. Tal místico encontraria em si o seu Satan Oculto. Tal místico encontraria em si o seu Satan Adormecido. Tal místico encontraria em si o seu Satan Desperto. Tal místico não seria bom, não seria mau. Tal místico não seria Luz, não seria as Trevas. Tal místico não estaria no Bem, tal místico não estaria no Mal. Tal místico saberia que o Satan Interno é uma experiência silenciosa dentro de si mesmo. Podemos, nesta suposição, vermos que tal místico seria mais corajoso do que muitos de nós que estremecemos diante do desejo de conhecermos ao que oculto possuimos em nossa Alma Eterna. Eu me pergunto se teria a coragem de realizar algo assim. Talvez vós todos estejam se perguntando se teriam tal coragem desafiadora de tudo como as palavras acima de Satan discursando. A resposta eu não posso dar-lhes, ela é interna. As vossas respostas recomendo que procurem e internamente guardem-na. Ou esqueçam-se destas palavras a tocarem no Dogma Da Queda. Tal Dogma pode ser A Verdadeira História Do Início Da Humanidade. Tal Dogma pode ser uma Grande Mentira Maior. Talvez o Dogma possa conter Verdades. Talvez o Dogma possa apenas ser invenção puramente religiosa/supersticiosa. Talvez eu seja Satan. Talvez todos nós sejamos Anjos Caídos.
Saudações Inomináveis a todos.
Texto originalmente publicado em meu falecido blog no Windows Live Spaces denominado Sobre Filosofia E Poesia E Música E Magia E Mundo em 01/08/06. Republicado aqui com algumas modificações.