A esquina
Hoje,quando voltava para casa,parei numa esquina-não qualquer esquina,aquela sua e minha,minha e tua- ,vi duas pessoas entre abraços e beijos.Duas pessoas,que sabiam que tinham que ir,mas não queriam ir.Eles pararam e se encontraram no fundo dos olhos. Ela,olhava para ele e tocava lhe o rosto,balbuciando algo que não pude distinguir. Ele,segurou a mão dela e sorriu,o sorriso mais bonito que eu já vi.
A chuva não tardou a cair,no entanto eu,como o casal apaixonado,não queria ir.Queria ficar ali,admirando-os...Espere...Eu os reconheço!Sou eu e ele antes do fim da cena.Parece que o tempo,encantado com a nossa atuação,nos guardou pra ele,temendo,como o que fatalmente aconteceu,que fossemos embora.
Senti gelada a minha face,não sei se gotas doces de chuva ou salgadas lágrimas, e de minha boca uma palavra : Saudade.Recostada num muro,sentada na calçada,deixei a chuva cair e fiquei a contemplar o casal...as mãos...os olhos...
Perguntas.Muitas perguntas cortavam rapidamente os meus pensamentos.Senti sangrarem velhos cortes e uma vontade de tentar abraçá-lo novamente naquela chuva,ainda que por poucos instantes.
A esquina mostrou-me o que eu era e já não sou,o que sentia e já não posso sentir.Era chamada de linda.Era a linda rosa regada todos os dias por mãos carinhosas (as mais bonitas mãos das ruas), que faleceu com a partida do jardineiro.Tenho o silêncio como amigo,como amante...Não sinto nada.Roubaste todas as pétalas.