Somos crianças que fingem ser adultos
Ontem de madrugada, estava vendo o filme Memórias de uma Gueixa, (filme lindo, excelente recomendo para quem não viu), no final, a gueixa encontra-se com seu amado e vai se justificar pelo que ela havia feito: forjar uma situação de se deitar com outro fulano, com o intuito de eliminar um outro pretendente, para poder assim ficar com seu amado (somente amado, eles não tinham nenhum relacionamento de marido, namorado etc) , mas o seu amado é q viu e bom a cena e não o pretendente e azedou o caldo rs, não entrarei em detalhes pra não estragar pra quem não viu o filme e muito menos mudar o foco do texto).
Fato é q ela não tinha culpa, estava errada ou algo tipo e nem este é o cerne da questão e de onde este texto se elabora!
Ela vai se justificar, e ele dizem calmamente que não precisa disto, aí ela, vamos assim dizer, “incorpora a gueixa”, quem ela é de fato, e lhe pede desculpas humildemente por ter envergonhado a casa dele. Aí, isso me chamou a atenção! A atitude elegante, adulta, de classe e dignidade em que ela se coloca numa posição de ser a errada e pede desculpas, mas não desculpas como uma criança que quebrou o vaso da mãe e que tem culpa (culpa►arrependimento►medo da rejeição). Não. Ela, como uma mulher adulta que percebeu que mesmo com as melhor das intenções, não agiu da melhor maneira, prejudicando aos outros e a si mesma.
Perfeito! Aí penso em nós ocidentais. Como é que nós agiríamos?
Ou agiríamos com frieza fingindo, veja bem, fingindooooo ser segura de si e por dentro se remoendo de ódio, recalcando tudo, pra lá na frente apodrecer de câncer. Não sabemos ser adultos, somos crianças fingindo-se de adultos.
A outra hipótese, a mais provável seria chorar, se descabelar, elevar o tom da voz e falar de forma estridente (isso é lamentável sras e srs), contar tudo tim tim por tim tim, tentando se defender ao máximo! Exatamente como uma criança que se defende de ser acusada de ter quebrado o vaso da mamãe, mas quem quebrou foi o cachorro, que ela deixou entrar em casa sem autorização. Que absurdo.
E notem, no filme ele não quer justificativa nenhuma, quer apenas esta atitude madura.
Quantas vezes você se justifica como se estivesse dando satisfações a seus pais ou num tribunal, tentando salvar sua pele? Alguma vez, ao discutir com seu companheiro, amigo(a), chefe, etc, mesmo você estando certo, você se recolheu, pedindo desculpas de forma elegante, apenas para evitar uma discussão inútil? Não né? Ahhhhh eu me humilhar para os outros jamais!! O que que é isso!!! Eu? Levar a culpa por algo que não fiz? Ficar por baixo? Não mesmo!
Pois é, aí acontece aquela puta discussão, um transtorno medonho e todas as relações ficam estremecidas. Ninguém está falando aqui para você engolir tudo e ser otário, ou agir fingindo ser adulto, recalcando a raiva. Não. Estou falando sobre sabedoria, autodomínio e maturidade de saber evitar discussões tolas.
Cabe ao mais maduro tomar as rédeas da situação e evitar que ela desemboque numa grande desarmonia desnecessária. É um ardil espertíssimo agir assim, somente quem tem extrema segurança do que fez, não sente a necessidade de se justificar para ninguém.
http://www.irvicaramello.blogspot.com/