No tempo das palavras
Desperta saudades o tempo das palavras...
Não mudamos de planeta,mas mudamos a maneira de enxergar a vida.
No tempo das palavras a vida parecia mais bela,o pensamento voava livre,e em um livro se descobria,porque cabia o mundo!
O maior vilão era o tempo que se podia ficar com a leitura,pois tinha-se horário para dormir,embora muito burlasse o relógio com lanternas sob o cobertor.A luz pouco firme era insignificante perante a vontade de chegar ao final das histórias (lia em uma noite todo o possível)!
Eram histórias,algumas muito tolas,mas que magicamente se tornavam real na imaginação,a ponto de acelerar as batidas do coração diante da descrição das situações.Sentia medo,sentia amor,sentia raiva,sentia dor, a humilhação,porque se virava o personagem e se refeltia sobre o bem e o mal,que eram claros nas linhas lidas!
Infelizmente,o tempo das palavras passou,e cada vez mais a realidade é virtual,e escrava da imagem.A imagem deixa pouco para a imaginação,e surpreende os sentidos,de forma positiva ou negativa.
A imagem tem preferências de cor,idade,personalidade,comportamento.
Os vilões da tela são mais perigosos,são mais lascivos,mais cínicos e mais próximos,podendo até ser os próprios filhos pequenos!
A imagem deturpa valores,permite transgressões e aberrações.
Estranhamente,porém,a falta da palavra lida perturba a descrição da imagem,não só a escrita.O diálogo não flui de maneira inteligível,e tudo vira "bagulho" "parada sinistra" "tá ligado?",e outros trens ou tchês.E neste barco,a distância entre as gerações já transpôs a barreira das idades,de cinco em cinco anos precisamos de tradutor-intérprete para pedir ao filho informações sobre tudo.Não tenho dúvidas que estamos falando línguas distintas,vivendo realidades separadas,com valores cada vez mais diferentes.Que saudades do tempo das palavras,pelo menos a gente falava a mesma língua...