O CRÁUDIO

Esses dias estava me lembrando de um episódio muito engraçado e resolvi torna-lo público.

Quando eu e minha esposa escolhemos os nomes de nossos filhos procuramos pesquisar a origem dos mesmos e seu significado, para que, se um dia eles fossem pesquisar teriam boas surpresas.

Antigamente e eu diria que hoje também, muitas pessoas se preocupavam mais com a pronuncia, se o nome escolhido é bonitinho e se esta na moda, do que propriamente seu significado.

Minha mãe achou bonito e assim me batizou de Cláudio.

Depois de adulto resolvi pesquisar a origem de meu nome, e para minha surpresa, de certa forma tem origem “nobre”, pois se originou do Imperador Tibérius Claudius.

Conta a história que Tibérius Claudius era manco, coxo, devido a um acidente quando criança, pois caiu do colo de uma mulher que o segurava.

Em razão disso originou-se o verbo claudicar, que significa andar mancando, assim como o nome próprio Cláudio, que significa manco, coxo.

Pois bem, isso já não me agradava muito, pois não é um significado bonito, tal como Vitório, Elisabete e tantos outros, e como se não bastasse, muita gente me chamava e chama até hoje de “Cráudio”.

Quando alguém me chama assim parece até que dói, pois meu nome é Cláudio e não Cráudio. Uma vez, um conhecido disse que me chamava assim, de Cráudio porque tinha língua presa.
Então sugeri a ele que me chamasse de CA – LAU - DIO e assim foi, com essa divisão ele falava com "L", mas na hora de juntar saia "R". Mais algumas tentativas e pronto, passou a me chamar de "Calaudio" . Sugeri que pronunciasse mais depressa e ele o fez. Assim ele aprendeu a falar Cláudio, com a lingua presa e tudo.

Falava Cláudio, mas continuou falando Praca e Bicicreta. Acho que ele deduziu que a didática só se aplicava ao meu nome.

Um belo dia resolvemos contratar uma empregada doméstica, mas essa também poderia eventualmente atender o telefone e queríamos que falasse corretamente. Como eu seria o contratante tenho o direito de contratar uma pessoa que atenda as minhas necessidades.

Mandei por um anuncio exatamente assim:
Precisa-se de uma empregada doméstica que, dentre outras coisas, saiba atender o telefone e que me chame de Cláudio e não de Cráudio. Salário a combinar.

A Repercussão foi muito além do esperado, confesso eu me diverti muito mesmo.

Muitas pessoas ligavam e diziam, em tom irônico e quase rindo:
- Quero falar com o Cráudio, você é o Cráudio.
- Alô, o Cráudio está?
- Por favor, é da casa do Cráudio?
- Cráudio, você paga bem?

Também ligaram algumas pessoas indignadas e diziam:

- Como o senhor põe um anuncio assim? Nem todas as pessoas tiverem oportunidade de estudar.
- Se você quer uma empregada assim contrate uma poliglota.
Essa é boa, tem gente que acha que pra falar Cláudio precisa ser poliglota.
- Você deveria respeitar as pessoas mais simples.
- Você ofendeu minha mãe, ela não tem estudo.

Um outro ligou e também falou um monte de besteiras e até deu o nome.

Esse último, pelo detecta identifiquei a ligação e tratava-se de uma loja.
Fui até o local e perguntei pela pessoa. Ele veio sem saber do que se tratava.
Ao contrário de chamá-lo pelo nome chamei-o por outro nome, repetidas vezes, e ele me corrigiu até meio irritado.
Então eu disse:
Quer dizer então que você faz questão de ser chamado pelo seu nome de batismo e de registro? Pois é, meu nome é Cláudio e não Cráudio e eu contrato a pessoa que eu quiser, o mínimo que exijo é que me chame pelo nome, é um direito meu, esse é meu nome. E acrescentei mais alguns argumentos, cabendo-lhe apenas um pedido de desculpas.

Com isso, na época, acabei por contratar uma empregada doméstica bilíngüe e que falava Cláudio.

Obviamente que existem pessoas com problemas de dicção e para tratar esse problema existem os fonoaudiólogos, mas tem muita gente, eu diria a maioria, que troca o R pelo L apenas por folclore ou por comodismo e existem pessoas que ainda acham isso bonito, falar errado.

Muito imigrantes orientais fazem o contrario, usam a linguagem do cebolinha: Eu pleciso complar um maço de plegos. Até ai tudo bem, é um problema na adaptação do idioma e não uma pronuncia viciada.

De qualquer forma qualquer pessoa pode me chamar por qualquer nome que desejar, mas sempre cabendo-me o direito de atender ou não. Já me basta o significado e origem do nome: coxo ou manco.
Claudio Cortez Francisco
Enviado por Claudio Cortez Francisco em 12/02/2011
Reeditado em 12/02/2011
Código do texto: T2787587
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