Por que CERTOS AMORES prendem em vez de libertar? Serão AMORES CERTOS?

Há muitos que dizem amar...

E até dizem muitas vezes. Dizem tanto que a gente nem consegue acreditar mais. É como se a pessoa estivesse tentando se convencer de que ama mesmo...!

O fato é que nós, não raro, não amamos o outro, mas a imagem que dele fazemos. Amamos um ‘outro ideal’ que está longe do ‘outro real’, que deveria ser, este sim, objeto do nosso amor. Daí surgem as dificuldades e os conflitos: acontece que o ‘outro real’ não consegue desempenhar o papel do ‘outro ideal’, que como a palavra mesma diz, é idealizado por nós. Acabamos por amar no outro, não mais do que a nós mesmos. Buscamos no outro a satisfação de carências e caprichos vários, que o outro, simplesmente não tem obrigação de satisfazer, e, nem mesmo capacidade para tanto, por que nesse caso, estamos carentes de nós mesmos...

O mandamento diz: “...como a ti mesmo.” (cf.: Mc 12, 31) Então somos o modelo e a medida do amor dado aos outros, ao menos pra início de conversa. Mas passemos a considerar o que seja o amor para que não nos falte um conceito, ou uma imagem.

Amor é dom! É dádiva! É doação de si ao outro. Oferta do que se é! Perguntamo-nos: Como podemos doar-nos se não nos possuímos? Se somos carentes de nós mesmos? Precisamos primeiro nos reaver, ou nunca seremos capazes de amar!

Você já disse que ama alguém? Antes ou depois de dizê-lo, já se perguntou se isso era verdade?

Já se indagou o porquê de estar dirigindo ao outro essas palavras? Já se perguntou se o conhece o suficiente? E se se conhece o suficiente?

Sim, por que precisamos nos analisar do ponto de vista do amor. Perguntar-nos se conhecemos o outro, o objeto do nosso amor, é necessário por que não se ama o que não se conhece; perguntar-nos se nos conhecemos o suficiente é necessário também por esta razão, pois se não se ama o que não se conhece, logo, se não nos conhecemos, vamos amar outra coisa que não nós e precisamente isso é que vamos oferecer aos outros. E também por que só nos conhecendo cada vez mais é que poderemos responder a primeira pergunta ‘...se isso era verdade’, se amamos de fato, ou se nos projetamos no outro.

Quando nos projetamos no outro, quando o idealizamos, é como se o proibíssemos de ser ele mesmo e o obrigássemos a desempenhar o papel que destinamos a ele. Acabamos por fazer compromissos para o outro cumprir! Criamos expectativas, e aqui está um grave problema: o amor verdadeiro não espera retorno, não nutre expectativas, se frustra cada vez menos... por que se espera algo do outro, é que o outro o possa ferir, visto que o outro é detentor de uma humanidade tão imperfeita quanto a nossa. Por isso também ficou dito que o amor espera tudo. (cf.: 1Cor 13, 7) O verdadeiro amor quer amar! Por isso, liberta! Enquanto não atingimos esta compreensão e nos lançamos na aventura de conhecer-nos, amar-nos e doar-nos amando as pessoas, gratuitamente, não conseguiremos saborear o retorno e as recompensas que o amor dá! Não prendamos os nossos amados: amigos (as), namorados (as), irmãos (as), filhos (as), etc.. Tenhamos a capacidade de nos doar. De dar a vida.

Quando atingirmos essa maturidade de amar, poderemos ser heróicos no amor. Poderemos amar como amou o amante mais perfeito que já passou pela face da terra: Jesus, o Nazareno, o Filho do Carpinteiro. Ele amou-nos e nos ensinou a amar com a mesma maturidade. Neste estágio o mandamento é ‘...como EU vos amei’ (cf.: Jo 15, 12), agora pra finalizar a conversa, ainda que sem esgotar o assunto!

Estas considerações eu as fiz aqui como pontos de provocação para reflexão. Como ficou dito no fim do último parágrafo, estamos longe de esgotar o assunto. Seria preciso um livro para tratar de forma mais satisfatória este tema, e ainda assim estaríamos longe de fazê-lo a contento. Então para não ultrapassar muito os limites usados nos outros artigos que tenho postado, achei por bem não me estender muito, mas peço que nos comentários exponham outras coisas, outros pontos, e então a partir daí farei outros pequenos artigos. Muito grato.

Adriano Morais