VIDA SEM SENTIDO
VIDA SEM SENTIDO
Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo,cores...
Eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela janela,pela janela
(quem é ela,quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado...
Eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados...
Eu ando pelo mundo e meus amigos,cadê?
minha alegria,meu cansaço?
Meu amor,cadê você?
Eu acordei
não tem ninguém ao meu lado...
(Adriana Calcanhoto-Esquadros)
Ao refletir significativamente na letra desta música percebemos que a mesma retrata a crise existencial que assola a humanidade nos dias atuais,os habitantes das grandes metrópoles que são dia-a-dia submetidos a um ritmo alucinante, a um stress constante e a uma violência cada vez mais crescente: a vida de uma cidade sufocada por um conjunto de incongruências de ordem econômica, social e cultural...
Todos os dias as pessoas correm de um lado para o outro, vêen-se,mas não se reconhecem. Simplesmente passam umas pelas outras,sem rosto e sem expressão. Enquanto uns correm para pegar o transporte coletivo em direção ao trabalho, corpos colados um ao outro, que não se falam, mas também não se vêem,sequer se sentem tocar; outros correm sem direção, sabe-se lá para onde, meio que perdidos, atônitos.
A pressa toma conta das pessoas que lhe faz esquecerem de que são seres humanos, o sinal de trânsito abre e já se ouve o barulho das buzinas.
Entre um engarrafamento e outro o automóvel avança: o ar é irrespirável. Os outdoors transformam-se em fachadas. A cidade se agiganta, sufocando a vida comunitária.
As residências se escondem cada vez mais atrás de muros a cada dia mais altos, protegidas também por cães, guardas e dispositivos eletrônicos. Os condomínios se fecham e os seus moradores se tornam prisioneiros dentro de suas próprias casas. Possuem medo de tudo, da exclusão e do estado marginal do alheio, do próximo que então não é mais tão próximo porque deve ficar distante...
Os velhos e assim por serem considerados são jogados na sarjeta, as meninas adolescentes que acaba de descobrir o corpo se prostituem a luz do dia, os mendigos pedem esmola sem parar e as crianças cheiram cola. Desempregados perambulam de fila em fila atrás de trabalho e da compaixão do homem capitalista para poder colocar o pão encima da mesa para seus filhos. Os empregados são subempregados e sobrevivem como camêlos,vendedores ambulantes,disputanto espaço com o comércio regular e correndo risco diário de ser punido pelo poder público.
No shopping Center este quadro social é totalmente oposto. Lá não entram os pedintes em nem os maltrapilhos, pois destoaria o ambiente e trariam inquietação a seus fiéis frequentadores. Lá é diferente o clima é outro o rosto sempre possuem o sorriso, pois lá a felicidade é vendida ao menos temporariamente, as últimas cores da moda e suas tendências deixam as pessoas boquiabertas, eletrônicos e carros do ano também encantam milhares. O apelo ao consumo é constante e gritante. Tudo bem limpo e tudo muito luminoso, mas tudo também muito superficial. Até as pessoas parecem não serem de verdade, é como se estivéssemos sendo protagonistas de uma história virtual que se vive atualmente, vazia de conteúdo e de humanidade.
Vivemos em uma geração extremamente oca! Sem alteridade e sem sentido de vida. Abraços!!!(PAPA)