Fracasso Infinito
No auge do meu fracasso,
eu não me senti fracassado,
eu ainda acreditava que nem tudo estava perdido,
mesmo depois de ter perdido a dignidade,
a vergonha, a honra, o orgulho, o respeito.
O que mais haveria por perder?
Indignação, é o que sinto,
obviamente com a minha falta de indignação.
Finjo me preocupar,
sorrio despreendidamente,
percebo que há um desapego a tudo e todos,
uma desintimidade com a pessoas.
Ah, quanto tempo perdido...
Não quero comover ninguém,
aliás, nem posso:
como pode um ser sem emoção,
um ser semi-vivo, emotivar alguém.
Também não tenho um objetivo,
fui programado para não ser programado.
Sou o limite entre os universos.
Um espaço que divide o escuro, desconhecido,
misterioso, ilusório, o infinito universo interior,
do visível, palpável, concreto, mortal,
o cruel mundo real.
Mas ninguém percebeu que sou o fracasso,
ou disfarçam para eu não saber que sabem.
E eu sigo,
andando para frente, olhando para trás,
em círculos cada vez menores,
e para baixo, numa escada sem fim...
O pior fracasso:
repetir o mesmo fracasso infinitamente...
Será esse o inferno? o infinito?