AS 37 PULSAÇÕES.

Anoitecia, era o primeiro pulsar do sereno. No fundo do mar, os ventres dos continentes se alastram e carregam os impulsos das ondas. Pulsos entrelaçam-se e alguns impulsos invadem os estúdios de novas células, dilatando um novo ser, que logo se propagará para observar o horizonte. As células são constantemente submetidas às pulsações dos tecidos, mesmo quando o corpo encontra-se em repouso, quando os cinco sentidos estão adormecendo...

O repouso dos olhos, por exemplo, é a pulsação estagnada dos cílios, são as pupilas no repouso de uma dilatação. Mas foi justamente o meu olhar estarrecido que na puberdade vislumbrou algumas situações ao teu lado. Tinhas por vezes uma expressão de leveza, que vinha na minha direção. Cabendo naqueles instantes a frase mais corriqueira para o seu olhar...

Permanecias livre, leve e solto. Porém, nada era dissoluto, solto. Nada parecia menor, nada era tão leve, tão solto. Maior, só a minha indagação momentânea.

Os meus limites desenfreados, as ligações inesperadas, estas foram dilaceradas, feito as extintas cartas que a pulsação mais forte da tecnologia se encarregou de deixá-las encobrir-se pela brisa do seu olhar recuado. Nem tudo foi tão claro, nem tão doce, nem meio amargo. Foi como a travessia de um rio, sem o áudio das garças, quando contemplei um beijo teu diante de um rio sem máculas. Os batimentos cardíacos seguiam assoreando o meu sentimento, já dilatado diante das estações. Quantas primaveras já viste pulsar? 37?

As 37 pulsações...

Não podem ser o número exato dos teus momentos mais sublimes, mas podem ser a representação da sístole e da diástole das 37 primaveras que por ti passaram, reverenciando-te, cada vez que em uma nova idade as suas células se propagaram, renovando-te, lapidando a tua face, o teu jeito arredio, a tua voz suave que a cada manhã surge nas primeiras pulsações de um novo dia. E, seja quantas forem as pulsações das próximas primaveras, os seus batimentos se renovarão, mesmo quando a brisa insistir em carregá-las.

ao som de...

R.E.M Everybody Hurts.

SHIRLEY LIMA
Enviado por SHIRLEY LIMA em 27/01/2011
Reeditado em 27/01/2011
Código do texto: T2755823
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