Cheguei aos Dezoito anos! Agora é a liberdade!



 
Alguns afirmam, com a razão que “suas verdades” lhes impõem, que minha idade mental é de criança com uma mente rebuscada. Assim pode não parecer, mas a muito tempo atrás eu já tive menos de dezoito anos, e nesta época eu “claramente” pensava como criança, que ao completar dezoito anos conheceria a liberdade.

Fiz dezoito anos e mentalmente bradava: agora sou livre! Livre dos grilhões de meus pais, livre das limitações impostas a menores e livre do policiamento filosófico do que eu achava dogmaticamente como pressão religiosa. Agora poderia, meio que como anárquico, ser livre de tudo e de todos, poderia ser um revolucionário de minha própria vida, poderia tomar posição política clara, poderia lutar pelo que queria, poderia até entrar em boates e ir a motéis, e ter ao meu dispor uma infinidade de situações que enquanto menor de idade me eram proibidas. Se pessoalmente as fazia, ou não, mesmo que proibidas, não é assunto para este texto, mas sim que agora, naquela época, com dezoito anos, poderia ser dono de meu nariz.


Ledo engano.


Não obstante a sociedade ter me aberto as portas para situações que me eram proibidas até um dia antes, ela também fechou algumas outras, e independente disto a liberdade completa nunca chegou e talvez nunca chegará.

Por mais conscientes, firmes e decididos que sejamos jamais seremos completamente livres, sinceramente acredito. A sociedade é um emaranhado complexo de pessoas, situações e limites, que muitas vezes o simples sentido de causalidade e efeito se perde frente a enormidade inter-relacionada de possíveis causas para cada efeito aparente, que goste eu ou não, a liberdade total passa a ser quase impossível.

Pessoas dependerão de mim, do que sou e do que faço, e eu sempre dependerei de pessoas, do que são e do que elas façam.


Se estou aqui escrevendo, dependi de uma infinidade de pessoas que comungaram para que eu aqui pudesse estar isto fazendo. Dependi de professores, de escolas, de médicos, de um pai e uma mãe biológicos, de família, de amigos, de ...


Dependo hoje dos trabalhadores na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, dos fabricantes, distribuidores e vendedores do papel e da lapiseira que uso. Para postar este texto dependo no mínimo, do fabricante do computados, da rede que uso, do mantenedor do provedor de acesso a internet que contratei e do mantenedor deste site, entre outras infinidades de dependências que necessito.


A trama total que nos envolve é de uma complexidade quase infinita. Não obstante, a sociedade para se manter minimamente estável necessita de leis, as quais devo me enquadrar.

Liberdade absoluta é um estado praticamente utópico para um ser humano “normal” que vive na e para a sociedade.

Alguma liberdade, nesta nossa realidade, é, creio eu, somente possível quando desejamos apenas o que nos é ético desejar, nos é factível alcançar e nos é permitido fazer.


A combinação equilibrada de desejo, ética, possibilidade e permissão pode nos levar a um espírito livre, de outra forma, acredito, apenas os sábios poderiam falar sobre ela. Longe de ser sábio e próximo de ser um reles mortal, a liberdade absoluta não será alcançada com dezoito anos ou com qualquer outra idade, sempre viveremos em uma liberdade relativa, que deve ser o suficiente para a dignificação da vida como um todo e da humana em especial.



Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 24/01/2011
Código do texto: T2749320
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