Sou

Amarras observou

Sem pressa para desatar.

Atento a como se organiza

Alcançava tudo que aprisiona.

Desfazendo insensibilidades

Que repudiaram verdades.

Num recesso programado

De seu próprio habitat abstraiu-se.

Na complexidade do tempo desistiu

Por saber que o desistir

Também é uma forma de existir.

Uma forma de rejeição humana

Traçando trajetórias ímpares.

Uma forma de dizer

Que aqui não é meu lugar

Mas como se o verbo

Em mim se encarnou

E humana me tornou?

Não sou feita de abstrato

Nem matéria qualquer

Sou o reflexo das mãos divinas

Que no exclusivo momento me criou.

O toque derradeiro me fazendo

Imagem e semelhança

A luz do Pai... aurora operante.

Que em cada filho coloca sua esperança.

Sou também o fio derradeiro

Estreito e certeiro

Que a própria claridade na escuridão se firmou.

Esse contento antagônico

Crônico e filtrado pelo amor amado.

Que fulgor espalhou.

Sou um fato a mais recolhendo mistérios

Um elo perdido pelo espaço etéreo.

Uma voz... um grito no longínquo infinito.

Sou uma forma de transição

Um constante furação afunilado

Recolhendo coisas bruscamente

Rodopiando pra todo lado.

Sem saber o que trouxe

Quando tocam o chão

E cobram de nós uma decisão.

Sou um feixe de luz vencida e vagante

Nesse universo errante.

Uma forma de ser doída

Que consegue ser exclusiva

Uma força permanente de alegria

Que nem sabe que existia.

Sou uma busca gritante do que já alcancei

Mas ainda não sei.

Nas quimeras do tempo

Que sem nexo invento.

Sou a miséria entendida

Da perfeição estendida.

Orbitante mas comprometida

Com o elevado mundo habitado.

Sou o fato inusitado do desabitado

Sou o favo do céu por um instante que seja

Construído mundo meu

Ao lado de tantos eus.

Escondida nesse tamanho breu

Aos poucos vencida

Pelo brilho permitida

Sem merecimento...apenas graça concedida.

Lucinda
Enviado por Lucinda em 21/01/2011
Código do texto: T2742885
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