Sou
Amarras observou
Sem pressa para desatar.
Atento a como se organiza
Alcançava tudo que aprisiona.
Desfazendo insensibilidades
Que repudiaram verdades.
Num recesso programado
De seu próprio habitat abstraiu-se.
Na complexidade do tempo desistiu
Por saber que o desistir
Também é uma forma de existir.
Uma forma de rejeição humana
Traçando trajetórias ímpares.
Uma forma de dizer
Que aqui não é meu lugar
Mas como se o verbo
Em mim se encarnou
E humana me tornou?
Não sou feita de abstrato
Nem matéria qualquer
Sou o reflexo das mãos divinas
Que no exclusivo momento me criou.
O toque derradeiro me fazendo
Imagem e semelhança
A luz do Pai... aurora operante.
Que em cada filho coloca sua esperança.
Sou também o fio derradeiro
Estreito e certeiro
Que a própria claridade na escuridão se firmou.
Esse contento antagônico
Crônico e filtrado pelo amor amado.
Que fulgor espalhou.
Sou um fato a mais recolhendo mistérios
Um elo perdido pelo espaço etéreo.
Uma voz... um grito no longínquo infinito.
Sou uma forma de transição
Um constante furação afunilado
Recolhendo coisas bruscamente
Rodopiando pra todo lado.
Sem saber o que trouxe
Quando tocam o chão
E cobram de nós uma decisão.
Sou um feixe de luz vencida e vagante
Nesse universo errante.
Uma forma de ser doída
Que consegue ser exclusiva
Uma força permanente de alegria
Que nem sabe que existia.
Sou uma busca gritante do que já alcancei
Mas ainda não sei.
Nas quimeras do tempo
Que sem nexo invento.
Sou a miséria entendida
Da perfeição estendida.
Orbitante mas comprometida
Com o elevado mundo habitado.
Sou o fato inusitado do desabitado
Sou o favo do céu por um instante que seja
Construído mundo meu
Ao lado de tantos eus.
Escondida nesse tamanho breu
Aos poucos vencida
Pelo brilho permitida
Sem merecimento...apenas graça concedida.