Um tempo com a morte

Cada pensamento com a morte, é uma morte. Morro e me satisfaço com tantas possibilidades de fazê-lo. Há mortes de todos os tipos e gostos, e por trás de cada modelo há um pouco de vida, de desejo, um fantasma de fantasia que anima tragédias; deixa os medos na ponta dos fios dos cabelos de um braço. Um momento embaraçoso para a consciência.

A verdade é que a morte é um momento crasso. Tudo que experienciamos em vida leva a crer que é como um sono, abraçado pelo desespero do fim de ser homem, a morte do bicho, do cavalo em que se assentou o espírito da civilização. Quanto tempo? Sendo este uma convenção, qualquer medida de tempo seria parte do romance, da ficcionalização do real.

Viver é lutar. O tempo existe, nós somos seu reflexo, nosso corpo e nossa vitalidade. Temos apenas um instante na história de todas as gerações da espécie humana, que pode ser curta, por um tempo, porque está entrelaçada com a história da vida deste planeta, neste sistema solar, no universo. Precisamos lutar para que a vida seja a maior e mais adorável batalha contra a morte. É necessário ultrapassar as barreiras do pensamento pequeno que vem desenhando o jogo social, antes de qualquer coisa.

É preciso que as pessoas sejam livres para se organizar, utilizando os sistemas de comunidade, cada vez mais abrangente, como o fazemos, mas de uma forma transparente e, principalmente, respeitadora, paciente, porque a dádiva dos homens é criar histórias para fazer a história coletiva se mexer, num tempo que vai correr da forma que quiserem aqueles que a ouvem, imaginam, e que depois farão suas próprias, capazes, por um sistema de regras perspectivado em terceira dimensão, de conviver em harmonia. Já criamos, inclusive, formas para isso: os órgãos. Se todos forem transparentes, se forem capazes de fazer o trabalho de forma honesta, não teremos problemas.

Qual seria o desafio? Se o desafio, em nosso tempo, é sobreviver, não estamos representando de forma tacanha e mesquinha, com o limite de prazer bastante restrito pelas consequências muito óbvias da desigualdade, um projeto de vida?

Mais do que isso. Você, que está lutando contra sua própria extinção, que tem sua vida como forma de protestar contra o fim, buscando a irrestrita felicidade, que já percebeu que sozinho ninguém pode ser de fato satisfeito e que deseja criar maneiras justas de criar desafios sociais, não está dando seus dias de viço e de força para construir um vício hereditário?

Só a morte é insuperável.

Avati
Enviado por Avati em 20/01/2011
Código do texto: T2741762
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