Respondendo a uma pergunta
Meu olhar fica vago porque eu penso, vago por lugares tão obscuros que não sei como explicar. Pensamentos tortuosos que me torturam e eu não sei como evitá-los. Sou perseguida por dentro e por fora e bebo para aplacar o torpor.
Entorpecida eu sigo e vago por ruas abertas de calçadas esburacadas que me cobrem por dentro e por fora da mais suja lama que penetra fundo sem encontrar alma pelo caminho.
E agora, sentada nesse banco de padaria eu amargo a cerveja que me desce pelos cotovelos, que me rasga a garganta, que me enoja pelo cheiro desse corpo que não gerará mais vida que a das letras desse papel e pela boca eu arroto a amargura do sabor deste verão.
Como me irritam essa chuva que não chove, esse vento que não venta, esse cigarro que não chega. Essa neve que só neva na canção que Billie Holiday me sussurra aos ouvidos. Ela que tem um amor para mantê-la aquecida enquanto o meu se refresca numa praia em boa comapnhia.
Minha única boa amiga não atende ao telefone, então só me resta continuar nessa conversa de mão única, a direita, que escreve sobre o papel.
Exatasiada ao observar gestos cotidianos eu quase me esqueço que há apenas algumas horas dei vivas por uma simples exclamação. Acho engraçado como três palavras podem estragar uma noite ou alimentar o mau-humor que começara pela manhã.