UM POUCO DE SOLIDÃO
Neste momento o relógio marca 01h08min. Na tela do meu monitor ainda são 19h55min - ah, se fosse! A noite está calma como criança esparramada no berço. Meus lábios estão betumados por um grande silêncio e as paredes do meu quarto ao invés de me aquecer, me gela com a palidez de suas brancas vagas. Sinto-me só. É como se eu estivesse no cume de uma montanha em dia de chuva, usando um guarda-chuva com hastes quebradas e os pés encharcados de lama já quase dormentes. À noite me assusta agora. Pensei até escrever uma poesia, mas não sou eu que determino: vou escrever uma poesia, é a poesia que determina: escreva-me agora. Daí meu desassossego perdido em meio a este turbilhão de solidão. Estou carregando um filme e vou assisti-lo depois do café. Filme de artes marciais. Há esta hora tem que ser agitado. Domingo pretendo assistir a minha relíquia: BEN-HUR. 4 horas de emoção. Até lá vou ruminando os sapos que durante esse dia que se foi eu engoli. Confesso até que a minha garganta está calejada para isso... Tudo que preciso é controlar a minha língua - que mesmo estando dentro de uma caverna com grandes na frente ainda consegue fugir... E quando foge fere...