Vontades...

Eu tive vontade de que o tempo parasse e que a manhã fria do falso inverno da minha cidade fosse produto da fértil imaginação que possuo. Mas o tempo não parou e o cobertor da minha consciência permaneceu tão só com a minha ausência que eu apiedei-me e permiti, mesmo por alguns instantes, a atividade do ócio.

Eu tive vontades loucas de tornar-me um super-herói e cometer feitos inimagináveis, salvando vidas, emitindo poderes, aproveitando a união de cada partícula sensorial do meu corpo com a ilusão onipotente que minha alucinação estabelecia só para satisfazer o meu delírio, que é faminto.

Eu tive vontades simples de sorri com o olhar travesso de uma criança na janela de um carro, que transparecia admiração para a vida além vidro, dando língua ao mundo que ela não imaginava ser maior que seu quarto, enquanto o mundo se despia para ela, excitando-a.

Eu tive vontades perversas, que nem na minha mais complexa insanidade eu cometeria, mas que em meus pensamentos sombrios eu as realizava com um prazer psicótico que me esfriava o sangue, endorfinava a alma e causava-me o calafrio do perigo real, o arrepio do medo.

Eu tive vontades impossíveis de fazer da ignorância uma doença curável permitindo que todos os infectados se livrassem desse mal, compreendendo a importância de cada ser, das adversidades, do diálogo, do respeito. Eu quis ser a cura desse vício.

Eu tive vontade de obter todo o conhecimento do mundo e suprir a necessidade de querer saber sempre mais. Uma necessidade que me angustiava constantemente. Mas depois descobri que a minha vontade mesmo era de não conhecer nada só para sentir a todo o momento o prazer de cada descoberta. Descobri que Deus não tem esperança e fiquei feliz por não ser divino.

Eu tive vontades pecaminosas, luxúricas, inconfessáveis, que abalaria ao mais profano dos homens e faria ranger os dentes dos mais fervorosos religiosos. Mas assim como todas as vontades... passaram. Agora a vontade que tenho é saber qual dessas vontades eu me permito realizar. Vocês me ajudam?

Fiquem à vontade...

Umile Romano
Enviado por Umile Romano em 12/01/2011
Código do texto: T2723786
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