Ópera Deprimente
Você me aparece uma imagem de mulher
Busco explicações
Há no mar algo que invoca você
No útero do oceano
Mas profundezas das águas salgadas e insanas
Há um tesouro comparável à tua alma
Você me descreve em aparências
Doces verticais de saudade
Quero lançar-la fora do alcance dos meus olhos
E devorá-la com meus pensamentos
Quero castigar o mais súbito do rei
E entregá-la aos teus pés
Quero me abominar com a ilusória imagem do teu rosto
E descrevê-la como os montes em ruínas absurdas
Descrever teus lábios como a fria lápide
Que despede palavras vidas e partidas
Subornar a retina, distorcer a visão
Descrever os teus lábios
É provar o cálice amargo que me enfarta
Da abstinência que injeta o veneno da saudade em minhas veias
É sugar todo licor de uma flor
O mar e seus segredos...
O verde das tuas pupilas desnorteia
As teias do teu coração são cabos que entrelaçam o meu destino
Tua imagem é utopia estúpida do autor
É decadência de usurpadores inconscientes
É terra bruta explorada pelos deuses da pintura
Descrever as investidas dos ventos
A ousadia dos assanhados dos teus cabelos
Eleva-me a tortura do acariciá-los
Confunde a tua juventude com a repugnância da minha experiência
E torna-me a existência dos mortais
Descrever teu sorriso é a intolerância de um discurso mudo
É a essência de uma ópera deprimente
É a pressa dos amantes que se atiram no precipício do prazer
Condena-me a perpetuidade da tua beleza
Compará-la ao mar e aos montes em ruínas
Deveras me faz louco em pensar
Que te possuir está além da minha onisciência.
(Pensamentos Complexos)
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
São Paulo, Janeiro de 2011 no dia 07