As regras do jogo
O espírito descontente é insaciável. Em qualquer situação os misantrôpos se mantém distantes e isolados. Mesmo que o lugar e o tempo fossem outros, ainda seria o mesmo descontente que não encontraria seu lugar e sua hora.
O espírito solitário tem em si mesmo o companheiro que não se efetiva. É um eterno companheiro de ninguém, uma companhia vazia ávida por efetivar-se sendo compartilhada com quem não existe. Acompanhar-se do vazio é identificar-se ao nada.
Todo misantropo deve se lembrar que, querendo ou não, é parte do mundo que tanto despreza. E que, se o jogo não o agrada, é porque ele escolhe as piores regras. Talvez desprezar o mundo seja o mesmo que desprezar a si mesmo, uma vez que quem despreza também é parte deste todo. Talvez também, delinear um gosto excludente seja uma forma de justificar o próprio isolamento, ou melhor, elencar para si tudo aquilo que a maioria não gosta pode ser uma forma de expor que se gosta também de coisas que essa maioria diz que não se deve gostar.
Este jogo é o jogo de todos, é o jogo de misantropos e de filantropos. Mas eu não estou falando essas coisas como quem quer dizer algo ao estranho, e sim, como quem se identifica com esse estranho.