Afilhado
Ele foi meu filho emprestado até os 12 anos. Acompanhei a gestação de minha irmã, seu nascimento, a notícia dada pelo médico de que nascera com um problema congênito.
Sofri e chorei durante 1 ano e meio em que usou gesso nas duas pernas até a 1ª cirurgia.
Sofri, mais ainda, quando na operação mal sucedida seus tecidos foram necrosados.
Chorei de alegria quando deu os primeiros passinhos, sem o gesso, usando botinhas ortopédicas.
Aos 5 anos nova cirurgia, levava-o para o parque com gesso nas pernas a fim de que brincasse com um barquinho a motor, seu brinquedo predileto.
Sofri quando constatamos que na 2ª cirurgia cortaram um pedaço do tendão agravando o problema inicial.
Vibrei quando enfrentou com galhardia o deboche cruel de um coleguinha na nova escola.
Vibrei quando se preparava para jogar futebol, embora não pudesse usar outro calçado que não fosse a bota. Percorri várias lojas até encontrar um tipo de tênis que servisse no seu pé para usar somente uma vez na disputa do torneio de futebol.
Acompanhei seu desempenho escolar, suas redações sempre elogiadas, suas medalhas conquistadas pelo excelente desempenho escolar.
Vibrei quando passou para a Escola Técnica Federal e me desdobrei em várias no momento em que precisou fazer uma nova cirurgia, necessitando ficar um período em cadeira de rodas, e como estava cursando o 1º ano não era permitido trancar a matrícula. Corri atrás, na frente, ao lado, procurei orientadores, psicólogos, diretores e consegui que abrissem uma exceção.
Chorei de agradecimento ao Dr. Arnaldo Santiago que com suas mãos mágicas devolveu-lhe o andar normal.
Tinha 12 anos quando engravidei, recebeu a notícia enciumado talvez pensando que a madrinha iria abandoná-lo. A forma que encontrei para abrandar seu ciúme foi participando que ele seria o padrinho do neném.
Clara afirma que eu não poderia ter escolhido um melhor padrinho para ela, se entendem muito bem. Ela cita um trecho da música do Cazuza “Nossos destinos foram traçados na maternidade”, dizendo ser o fundo musical da relação deles. Foi através dele que sua paixão pelo cinema foi despertada.
Na semana passada minha irmã comentou que ele havia sido convidado para ir trabalhar em Angola. Não registrei bem a notícia, achei que era uma coisa para um futuro distante.
Hoje conversamos por telefone e fiquei sabendo que assumirá seu novo posto na próxima semana. A ficha caiu!
Choro um misto de alegria, de saudade, de tristeza. Não consigo identificar esse choro. Sei que será uma nova experiência profissional, terá um melhor salário, um cargo mais elevado, por outro lado sabê-lo tão longe bate uma saudade cheia de antecedência.
Meu afilhado, meu compadre, meu sobrinho, meu amigo, seja feliz na nova caminhada. Eu daqui vou torcer por você. Coração apertado, chorando de saudade, mas vibrando pelo seu sucesso.
Sua dinda.
04/01/11
*Escrito como uma catarse, sem revisão.
Ele foi meu filho emprestado até os 12 anos. Acompanhei a gestação de minha irmã, seu nascimento, a notícia dada pelo médico de que nascera com um problema congênito.
Sofri e chorei durante 1 ano e meio em que usou gesso nas duas pernas até a 1ª cirurgia.
Sofri, mais ainda, quando na operação mal sucedida seus tecidos foram necrosados.
Chorei de alegria quando deu os primeiros passinhos, sem o gesso, usando botinhas ortopédicas.
Aos 5 anos nova cirurgia, levava-o para o parque com gesso nas pernas a fim de que brincasse com um barquinho a motor, seu brinquedo predileto.
Sofri quando constatamos que na 2ª cirurgia cortaram um pedaço do tendão agravando o problema inicial.
Vibrei quando enfrentou com galhardia o deboche cruel de um coleguinha na nova escola.
Vibrei quando se preparava para jogar futebol, embora não pudesse usar outro calçado que não fosse a bota. Percorri várias lojas até encontrar um tipo de tênis que servisse no seu pé para usar somente uma vez na disputa do torneio de futebol.
Acompanhei seu desempenho escolar, suas redações sempre elogiadas, suas medalhas conquistadas pelo excelente desempenho escolar.
Vibrei quando passou para a Escola Técnica Federal e me desdobrei em várias no momento em que precisou fazer uma nova cirurgia, necessitando ficar um período em cadeira de rodas, e como estava cursando o 1º ano não era permitido trancar a matrícula. Corri atrás, na frente, ao lado, procurei orientadores, psicólogos, diretores e consegui que abrissem uma exceção.
Chorei de agradecimento ao Dr. Arnaldo Santiago que com suas mãos mágicas devolveu-lhe o andar normal.
Tinha 12 anos quando engravidei, recebeu a notícia enciumado talvez pensando que a madrinha iria abandoná-lo. A forma que encontrei para abrandar seu ciúme foi participando que ele seria o padrinho do neném.
Clara afirma que eu não poderia ter escolhido um melhor padrinho para ela, se entendem muito bem. Ela cita um trecho da música do Cazuza “Nossos destinos foram traçados na maternidade”, dizendo ser o fundo musical da relação deles. Foi através dele que sua paixão pelo cinema foi despertada.
Na semana passada minha irmã comentou que ele havia sido convidado para ir trabalhar em Angola. Não registrei bem a notícia, achei que era uma coisa para um futuro distante.
Hoje conversamos por telefone e fiquei sabendo que assumirá seu novo posto na próxima semana. A ficha caiu!
Choro um misto de alegria, de saudade, de tristeza. Não consigo identificar esse choro. Sei que será uma nova experiência profissional, terá um melhor salário, um cargo mais elevado, por outro lado sabê-lo tão longe bate uma saudade cheia de antecedência.
Meu afilhado, meu compadre, meu sobrinho, meu amigo, seja feliz na nova caminhada. Eu daqui vou torcer por você. Coração apertado, chorando de saudade, mas vibrando pelo seu sucesso.
Sua dinda.
04/01/11
*Escrito como uma catarse, sem revisão.