Meu Vizinho Esperto

A mulher lavava-lhe as roupas

Ele lavava-lhe os desejos

Levando-lhe ao ápice

Da humilhação.

Eu, da janela, sempre atenta

Ele entrando e saindo

Perfumado e penteado

Com jeito de quem tá traindo.

A mulher com a vassoura na mão

Corria até o portão

E depositava-lhe beijos

Que antes de virar a esquina

O safado limpava

Com a costa da mão.

Era triste de ver

Que a mulher era escrava

Lavava louça, calçada

E ele fazia serão.

Vestido de calça costurada,

Sapato brilhante e azul

Era malandro da noite

Gostava de puta e de gay.

A mulher, coitadinha,

Sempre enfiada na cozinha

Experimentando receitas

A agradar a família, que eu sei.

Até que um dia, surpresa!

Ao chegar desengonçado

Pela transa com a rameira

Encontrou a mulher dormindo

Nua, debaixo da mesa.

Sentou-se no chão, quieto,

E esperou a princesa

Abrir os olhos com calma.

- O que houve, Amélia?

A mulher sem resposta

Apostou na prepotência

E na ciência de que ele

Se sabia velhaco

Logo disse de pronto

Que sentira calor

E por isso arrancou

Toda a roupa de trapo.

Não entendendo nada

Mas crendo na fidelidade

Criada pela cegueira

Da esposa cozinheira

Adroaldo respirou fundo

Levantou-se e foi banhar-se.

A boba ficou na cozinha

Lembrando da trepadeira

Que aprontara com o cunhado.

É bom ter marido safado,

É bom fazer chumbo trocado

E ainda sair ilesa, nua sob uma mesa.

Serviu a janta na mesma mesa,

Lavou a louça que tirou da mesa,

Passou a roupa do marido sobre a mesa

Enquanto ele dormia em frente à tevê.

Diária Mente Louca
Enviado por Diária Mente Louca em 05/01/2011
Código do texto: T2710321
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