Pensar pequeno é trágico
A despeito do tabagismo, dos cânceres piores que se adquire com a má alimentação, a falta de atividade física regular e todos os demais excessos de desleixo a que estamos submetidos, nós, a maioria, a pior das patologias possíveis, definitiva e contagiosa, é a falta de bom senso. Quase toda a população sofre de um problema sério de discernimento e atitude. É como disse Cazuza, a piscina cheia de ratos não deixa dúvida, tampouco os fatos.
Não falo apenas do povo que chora ao ver Lula de mãos dadas com JOSÉ SARNEY, o que já seria motivo suficiente, nem mesmo dos índices astronômicos de audiência para reality shows paupérrimos de experiência humana, completamente roteirizados e formadores de novos "talentos" da tv, mas disso e de todas as pequenas decisões tomadas sem nenhuma espécie de organização.
Muitos problemas poderiam ser resolvidos em benefício das comunidades, fosse a iniciativa das pessoas mais latente, fosse o interesse em jogar com o capitalismo como ele permite. É claro, sei que as condições no Brasil não são boas para nenhum empresário, mas é apenas unindo forças e conhecimento que se pode jogar com mais competência.
O que se faz no país é um trabalho amador que vem tanto do povo, quanto do governo, mas este, por sua vez, é quem dita o ritmo. O populacho, acomodado, vai no passo, seguindo pra onde querem que ele vá, colônia de sempre, a mesma terra onde um estrangeiro do povo faz sua riqueza com suor alheio. E isso é reafirmado a cada decisão que se toma: você pode ser um consumidor idiota de pop arte, que se liga a elementos internacionais pelo contexto social restrito que vive, ou pode começar a gostar de música, pela música, e quem sabe perceber que na sua cidade tem muita gente que faz melhor com o dinheiro que você anda investindo por aí. Você pode ser um péssimo cidadão, dando esmolas por aí pra sustentar a estrutura social bamba que inventaram e que graças a você, subsiste. Sim, a coisa pode ficar feia. Sim, eles tendem a ficar piores. Sim, a coisa tem que sair fora dos trilhos, porque é preciso fazer direito, não ficar criando remendos sociais que fazem desse lugar um Frankenstein. Essas pessoas não são santos, nem demônios, precisam ser educadas e ficar a par de um projeto nacional. O jogo é para todos.
Enquanto houver ignorância, enquanto cada um não acordar sabendo que vivemos numa sociedade de DISPUTA, e a nível global, vão achar que a vida é uma inspiração, vão viver sem um sentido, vão procurar ficções quando poderíam vivê-las, realmente. A maior falha do governo é a falta de honestidade quanto ao jogo. É incutir valores abstratos demais para pessoas que nada tem e que se agarram, fazem parte e ajudam a promover uma estrutura antidemocrática. Democracia só existe quando existe a consciência do que se está fazendo e para quê.
As aulas de história no colégio são matéria de livro. Não são indicadores do que vivemos hoje, para a maioria que pendura um diploma na sua parede. Para outros que, com a boca cheia e a cabeça vazia, bradam que os imigrantes são o problema das cidades. E o problema deles? O que eles fazem com séculos de exploração, decadência da vegetação natural, empobrecimento dos solos, manipulação da cultura nativa e o curral do real a que foram e ainda são instruídos? Os danos são claros e óbvios. Um país que bateu palma para a súbita ação da polícia contra os traficantes. Muitas mortes, muitas palmas. Agora, quem destes conheceu, tempo o suficiente, a vida e a relação entre as comunidades e a polícia do Rio de Janeiro?
Acho que é Deleuze que nos aponta a "sociedade de controle", ideia que tem a respeito da sucessão do caráter social que realizamos nos últimos tempos, a passagem de uma sociedade repressiva para uma controlada, onde muitos mecanismos neutralizadores foram absorvidos e são reproduzidos como naturais. É o ganho do tempo sobre os homens incautos.
Em suma, é preciso despertar para a realidade. É preciso encarar os fatos: o mundo é injusto, mas não existe nada místico nisso, é uma situação montada, cuja manutenção é responsabilidade nossa, e fazemos tudo direitinho, como mandado. O medo nos torna cativos de uma vida que poderia ser muito melhor, muito mais PRAZEIROSA, com mais risos e satisfação do que esta oferece. Não estou dizendo, e jamais direi, que se acabarão os problemas. Não, haverá morte, roubo, mas tudo será muito bem organizado, os golpes teriam de ser grandes golpes, coisa de gênio. As mortes, precisariam fazê-las uns seres capazes de se ocultar na própria luz do dia, porque estaríamos todos muito bem preparados para o homem que deixamos para trás, um homem que já estava gasto, que não tem mais graça, que já se repete e faz o povo, muita vez, enjoar da própria vida.
O problema do homem é a preguiça.