Que venha 2011!
Com a mudança das estações e a troca das folhas dos calendários, penso que, verdadeiramente, não é de horas, meses, carnavais e invernos que se faz a vida. Nem de inferno ou céu, de preto e branco – sem meros dualismos, a vida vai muito além do cinza que pinta o concreto. Ah, o abstrato do sonhar!
Mas a vida é algo mais, carrego comigo esta impressão. A vida não se mensura, não é uma estatística, não se conta e nem, sinceramente, nos damos conta de que os tempos modernos cada vez mais são menos os nossos tempos – isto porque a tecnologia sutil do touchscreen substitui, em polegadas, a vida imensurável das janelas, dos olhos e, bem, da ausência de tato e contato. De abraço.
Sim, nossas exclamações e interrogações abandonam, pouco a pouco, nós mesmos, sob o véu insensível da indiferença. Nos deixam os braços e nos revelam silêncios, lacunas.
Só que não é da indiferença que se trata a vida: em 2011 devemos abandonar os espelhos e lançarmo-nos às janelas dos dias. Ah, o concreto do viver!
E do que somos feitos? De veias, artérias e um coração que sangra todos os dias, que pulsa no impulso de nosso diário levantar e deitar ao som de um galo velho. Cotidiano.
Além, muito além, somos possibilidades, opções, oportunidades, escolhas e decisões. Por isto, precisamos nos conhecer para reconhecer que somos resultados de nós mesmos e dos outros, pois a realidade é compartilhada em coletividade por todos que, cruzando as teias de suas vivências, constroem o hoje.
É disto que se trata a vida e é disto que o novo calendário dará conta: de nossas escolhas, palavras e silêncios, versos e inversos, prosas e rimas, dias e dias... Paz, esperança, amor, felicidade – palavras que merecem novos significados, novas reflexões. Lutas e sonhos.
Dispenso previsões, rejeito condições impossíveis de superação. Aliás, em 2011, ‘impossível’ deve ser unicamente uma palavra grande acreditada por pessoas pequenas: supere este paradigma. Se permita acreditar!
Pois é disto também que se trata esta matéria-prima vida: da crença, da fé, da convicção – em si e, concomitantemente, no outro e na outra.
E o que esperar de 2011? Não espere, simplesmente. Carregamos em nós a possibilidade de ser protagonista: amarre neste nó a certeza desta capacidade e dela não se esqueça, pois, de um mês a outro, é de luta que se faz o brasileiro, na sua crença de um novo nascer do sol. E deste se pôr em paz, ímpar que é quando carrega consigo o descanso merecido depois de inverter as horas em esforço e suor.
Que 2011 seja de luta, de vida e que sejamos obras-primas de nós mesmos, espelhos e janelas de uma poesia que somos versos e verbos. Que venha 2011!