NS & ÉF & ÉT
Mordendo meu rabo, volto ao mesmo ponto, à mesma periódica encruzilhada da dúvida: ciente de que tudo já foi dito, por que insisto em dizer, então? Satisfazer meu ego? Expor-me para tentar me entender? Quantas perguntas que ninguém tem interesse em responder - e que nem eu mesmo, o algoz interpelador, tenho! Todo final de ano é mesma ladainha e assim para sempre será, pelo jeito. Nego soltando aos ventos os erros cometidos e uma utópica esperança de que fará algo para mudar no ano que se inicia. Caralho, faço isso todos os dias e não adianta! É a repetição que desgasta a coisa e não a deixa funcionar corretamente? Sigo errando, errando diariamente só por me manter vivo e, tento me reciclar, fazer de mim um ser mais ou menos aceitável - já que a dita perfeição inexistirá enquanto eu arriar as calças e esvaziar as tripas como qualquer ser vivo por aí. Não sei o que fazer...
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Hoje eu sonhei com um bom e velho amor. Nem tão velho e nem tão bom. E nem tão amor, também. E também não foi um sonho sequer, se quer saber. Achei um caderno de anotações que ganhei de uma ex-namorada que traiu o namorado comigo na véspera do dias dos namorados e naquelas páginas amareladas e com cheiro ruim - o cheiro da infidelidade repetida e retribuída, quiçá - me deparei com alguns escritos em que, cego na turva visão de um abundante amor, derramei palavras que surpreenderem à mim mesmo, onde de início não me reconheci, tamanha profundidade no significado de cada linha escrita ali enquanto - sendo regido pelo alvorecer de uma nova era - voltava de uma longínqua estação de trem do ABC Paulista após uma madrugada corrida onde nada além de uma dormitada no meu ombro aconteceu. Enfim, li maravilhado minhas baboseiras e depois de um tempo fui deitar. Fiquei meio-acordado-meio-dormindo e, como sempre, a cena se repetiu na minha cabeça como se eu tivesse voltado no tempo. O nada sendo tudo, a confusão sendo solução, a realidade sendo sonho e, por fim, tudo desmoronando - como era de se prever. Adormeci e esses devaneios foram como uma noite de bebedeira de vinho. E claro, acordei com todo o mal-estar de uma ressaca equivalente à tal noitada de embriaguez. Motivo da ressaca? Ah, o "já era" materializado. É foda...
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Perdi o interesse numa porção de coisas. Perdi o interesse em lutar. Perdi o interesse em seguir alguma carreira. Aliás, tenho preguiça só de pensar em alguma carreira. E mais preguiça ainda de pensar no que eu não quero como carreira. E, aliás, a carreira que eu ando mais próximo do jeito que a coisa anda é ajeitada com um simples cartão telefônico e seguida e sugada com uma cédula enrolada qualquer. Brincadeira. Também perdi o interesse por brincadeiras. Qualquer uma. Qualquer joguinho me empreguiça até a alma. Seja ele de videogame ou de sedução. Este último inclusive, já que por fim me descobri um péssimo jogador. "Três coisas que o homem precisa: fé, pratica e sorte". Falo alguma coisa? Niilismo, preguiça e azar pleno. Perdi o interesse em ralar a canela no skate. Perdi o interesse em sair com a mulher dos outros. Perdi o interesse em... Em quê? Ah, cacete, estaria eu, com um monte de palavras aleatórias, moqueando uma resolução de fim de ano? Tenso...
Johnny Cash - Riders of The Sky