Sobre o amor
Sobre o amor
“Quem de nós vai mostrar realmente o que quer?” a resposta à pergunta feita na música da banda catedral, implica algumas questões. Implicitamente a música diz que escondemos algo em certa medida, que não revelamos aquilo que realmente queremos. Os motivos para que isso ocorra são vários, alguns desconhecem o real de seus desejos, o que ultrapassa aquilo que é dito, que está exatamente nas entrelinhas de seu discurso.
Desconhecedores de seu querer, não deixam no entanto de querer. Contudo, o que se aparenta ou de outro modo o que se esconde, é que não sabem o que querem. Por não saber o procuram das mais variadas formas, nas mais variadas circunstâncias.
Aí entra em cena em meio a todas as tentativas a palavra que simboliza o encontro entre o desejo e o que realmente se quer: Amor. É consenso que a razão leva o homem a evoluir mas o que move o ser humano em direção à vida são justamente os sentimentos. Há quem diga que exista loucura no amor e se permitirmos levar essa máxima ao pé da letra podemos ser guiados pelos sentimentos em detrimento da razão.
Mas racionalizar algo que se sente e comunica-lo é simbolizar algo que não é palpável e, portanto, incompreensível. Racionalizamos o que não compreendemos. Sendo assim o ser humano poderia ser entendido como um animal racional, um ser do simbólico, que constrói esse simbolismo pela linguagem incompreensível dos sentimentos. E para que algo mais incompreensível que o amor?
Amor que faz chorar, que faz rir. Amor que faz sofrer, que faz viver. Que é da ordem do impossível, daquilo que é sonho, mas que ainda assim vale ser sonhado. Que é romântico, quase cafona, mas que conforta e alivia. Amor que enobrece.
A meu ver existe muito de sagrado nesta palavra, talvez por nos ensinar a religião que “Deus é amor”, no ensinando o real daquilo que é espiritualidade. E se de acordo com a religião ainda, “não chamarás teu santo nome em vão”, porque nós humanos dizemos amar superficialmente, e muitas vezes aquilo que não nos preenche?
Será que ao mostrarmos amor mostramos o que queremos? Aquilo que realmente sentimos?
Olhar para dentro é o meio de obter tais respostas já que é no interior que carregamos o incompreensível. Mas o que causa tanto temor a nós seres humanos quando o assunto é olhar a si mesmo, se analisar?
Tememos tanto mais a nós mesmos e ao que sentimos que a qualquer objeto externo, meros focos de nossas projeções e se isso ocorre, é pelo medo de reconhece-se frágil e responsabilizar-se pelo que é ou não e pelo que ainda poderá ser.
É uma situação de risco. Amei e fui amado assim como sou, ainda que nem saiba quem sou ou quem tenha me amado. Valerá arriscar-me a saber sobre mim de tal maneira a ponto de redefinir o que é o amor? Redefinindo a mim?
Acredito que vale.