O REVÉS DA ILUSÃO

“Alma gêmea da minh'alma,

Flor de luz da minha vida,

Sublime estrela caída

Das belezas da amplidão!...

Quando eu errava no mundo,

Triste e só, no meu caminho,

Chegaste, devagarinho,

E encheste-me o coração.

Vinhas na bênção dos deuses,

Na divina claridade,

Tecer-me a felicidade

Em sorrisos de esplendor!...

És meu tesouro infinito,

Juro-te eterna aliança,

Porque sou tua esperança,

Como és todo o meu amor!

Alma gêmea da minh'alma,

Se eu te perder, algum dia,

Serei a escura agonia

Da saudade nos seus véus...

Se um dia me abandonares,

Luz terna dos meus amores,

Hei de esperar-te, entre as flores

Da claridade dos céus...”

(Emmanuel)

***

A felicidade é algo que buscamos mas que na verdade não existe além da nossa ilusão. O que existe são raros momentos de felicidade, que como se não bastassem ser raros, algumas vezes são também ilusórios.

A felicidade é uma meta, um norte que jamais alcançaremos mas que nos serve de guia rumo o melhoramento. Digo inatingível, pois a vida não é perfeita e tão pouco os homens o são. A estrada da excelência é uma longa caminhada, cujo final do percurso ainda não está ao alcance das nossas vistas.

O encontro de almas gêmeas seria então, a excelência dos relacionamentos. E como ainda somos tão imperfeitos, elas não existem para nós... mesmo que por acaso verdadeiras.

Existem príncipes e princesas, é um fato. Mas a nobreza que atribuímos a esses títulos é rara e coerentemente com a nossa imperfeição, de fugaz lampejo em nossa alma.

Fui ao inferno e lá permaneci por uma longa temporada. Quando de lá saí, me senti e acreditei estar no céu por um tempo breve. O que alimentou meu coração e manteve a esperança viva em mim. Porém, hoje a magia chega ao derradeiro fim, sinto pela primeira vez na vida meus pés fortemente aderidos ao chão. E me dou conta que do chão nunca deveriam ter saído e de que o céu é mera ilusão... Melhor que jamais tivesse acontecido, pois pior do que nunca ter ido ao céu, e conviver com a desilusão da sua desmistificação.

Já não acredito mais em perfeição, almas gêmeas, nas palavras nobres, príncipes ou princesas. E pela primeira vez em toda minha vida, não sinto o cheiro do Natal... Morre dentro de minh'alma a menina.

cinara
Enviado por cinara em 19/12/2010
Reeditado em 20/12/2010
Código do texto: T2681347
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.