Qual o meu problema com as pessoas?

Sempe tive a fama de sabe-tudo, do tipo que tem resposta pra tudo, sempre. Isso sempre foi natural pra mim, e mais natural ainda é o fato das pessoas que estão em volta, aos poucos, ficarem incomodadas. É claro, ser assim incomoda, estou falando sério, sei que incomoda. Incomoda até a mim quando encontro outra pessoa que tem a mesma mania irritante de sempre saber tudo, ou achar que sabe. E isso inclui a mim. Muitas vezes já disse o que não sabia com muita convicção, a ponto de convencer.

Mas isso é assunto para outro texto...

O que ocorreu foi que, num dia desses, me perguntaram:

"Qual o seu problema com as pessoas?"

Fiquei sem resposta. E não foi pela hipnose eminente, causada pela visão mais que majestosa da linda boca que jogou em meu colo essa pergunta mais que difícil, emudecedora. Até poderia ser, com facilidade, diga-se de passagem, mas não foi.

Pra mim, não é fácil me calar após uma pergunta. É instintivo abrir a boca e falar, em tom convicto minha opinião sobre o assunto. Nesse caso a opinião seria realmente a minha, era uma pergunta direta, sem meios. Pergunta, a qual, nunca tinha feito em meus transes/desvaneios a mim mesmo.

Juro que pensei na resposta. Foram os segundos mais frenéticos. Minha mente vagou até o infinito dos paradigmas que formam meu inconsciente, buscando uma forma de concretizar minha opinião e transformá-la em palavras. Nada retornou. A boca tentou, o ar estava ali, mas nada saiu, engasguei. Fiquei paralisado, olhando a habitante da mesa mais bem habitada da empresa, duplamente mais bem habitada por sinal. Por fim, desisti e pus-me a pensar na resposta, e eis que surgiu, entre um desvaneio e outro, no meio da rua. O celular foi o único meio de registrar. Parei, na chuva, no meio da rua e coloquei-me a digitar. Às vezes minha mente ferve em mil turbilhões de idéias, e às vezes padece em um mar vazio em calmaria. Então, não perco mais idéias. Anoto todas, mesmo se tiver que escrever andando, no meio da chuva.

Eis a resposta:

A verdade é que não tenho nada contra as pessoas. Tenho com aquilo que as movimenta. Com o combustível que as leva a viver à mil responsabilidades por segundo. Que as transformam em máquinas de stress e inunda as salas dos psicólogos com tratamentos de stress pós-traumático. Doença típica de soldados que retornam da guerra. Isso mesmo. Da Guerra. Estamos em guerra, 24 horas por dia, com nós mesmos. Você, leitora(o) pode não perceber, mas reprimimos nossas verdadeiras vontades à todo tempo. O Hábito gera o automatismo, que transforma o stress em algo normal. Passamos a não conseguir viver sem ele. Viciados em problemas. Às vezes tiramos férias, ficamos um tempo sem eles, mas depois de um tempo, sentimos falta. Queremos voltar a rotina. Pisar em asfalto firme, longe da lama e do barro. E voltar a ser dependentes do asfalto, do concreto, do aço e do silício.

Eduardo Polarco
Enviado por Eduardo Polarco em 17/12/2010
Código do texto: T2677559