Nove Décimos de Insônia
I
Silêncio que conforta.
Olhar que conforta.
Brilho no olhar que conforta.
Respirar que conforta.
II
Conforto a um morto
deitado no ataúde
carecendo de saúde -
de um pouco de vida.
III
Fico rendido
segundo após segundo
sendo surpreendido -
tal vislumbre de novo mundo.
IV
É tarde e não quero ir.
É tarde e você não quer ir.
É tarde e eu quero ficar.
É tarde e você não pode ficar.
V
Diferença do Ideal
para o Real:
Diga-me, pois, qual?
VI
Agora é tarde
tarde pra você.
A mingua do que desdenhou
por fim se extinguiu.
Se exauriu -
foi pra puta que o pariu.
VII
A você que manipula
transforma tudo numa bosta:
te ofereço minha amizade -
lhe apresento minhas costas.
VIII
Sinto-me péssimo e irascível ao saber
que o mais puro dos meus sentimentos
foi apenas uma flanelinha
pra você polir o ego.
IX
Doce sotaque do meio-dia
será que você já sabia
que quando te trago à mente
aumento minha taquicardia?