As paixões da humanidade
O homem já está sobejamente humanizado, já está arraigado na ideia de que é um animal superior, em cotejo aos demais seres que pululam nesse orbe e que pode sobrepuja-los, suplantá-los, subjuga-los pela inteligência. Que pode saciar, aplacar seus anseios, se locupletar, se regozijar, se abastar da tecnologia para a realização dos seus intentos, para a sua comodidade, para os seus quefazeres diários. O homem inculcou em sua mente que já pode tudo. Pode matar seus semelhantes quando e como lhe aprouver. Que pode ludibriar, escamotear, surrupiar o que não lhe pertence, pois já não mais confia na justiça dos homens, tampouco na justiça divina, pois já sufocou sua consciência, a sede do pensamento divino. Então tudo o que resta ao homem é gozar sua liberdade e sua libertinagem, no vazio da sua existência. Mas ainda temos a poesia e essa a preencher esse vazio, com o lenitivo da pureza, da docilidade e da paz que tanto anelamos. A poesia traz o encanto que transluz da alma. No âmago, no imo do ser, na sua essência, também chamada de alma, deve melifluir a ternura no álveo do rio dos sentimentos e desaguar, placidamente, espraiando-se, na planície do encanto, regando as flores imarcescíveis do afeto. Pelo afeto, pela empatia, pela ternura, pelo amor, voltaremos ao acalanto da espiritualidade, que há muito sufocamos para aplacar os anseios da nossa humanidade, os quais também chamados de paixões.